sábado, outubro 24

For me to You

Uma amiga que demoro a ver e no meu coração mora. Uma moça magrinha que não engorda porque pensa que a vida vai lhe empurrar do trem se ela aumentar um grama, se ela der um passo maior do que suas pernas.
Ela é jovem e tem aquela ilusão própria dos jovens de que tudo é para sempre, que ela já viveu tudo que tinha a viver e mais nada. Ela é inteligente, professora competente, mas nisso ela não sabe é de nada. Ela não sabe, por exemplo, que a vida é um moinho, mas a velocidade da roda que faz a água girar depende muito de nós, da nossa vontade, do nosso querer. Ela precisa aprender que de teimoso também se vive.
Quando se vive por teimosia, é possível engolir um leão por dia, atravessar o chão pisando em brasas. É claro que se chora, que se sofre. Ninguém é completamente imune às coisas assim tão duras, tão quentes. E daí? Será que não podemos levantar a cabeça e olhar para àquele leão e desafiá-lo? Venha, venha me pegar, você pensa que sou fraca? Sou não, bicho, o que você tá vendo é só a casca, o couro é duro pra danado!
Minha amiga se pensa feita de açúcar. Ela ainda não parou para pensar que o vivido só poderia ser suportado por uma pessoa de aço. O açúcar já a teria feito sumir há tempos; o aço, pelo contrário, ficou forjado a cada dor, a cada decepção, impelindo-a à vida. O pensamento dela às vezes é tão troncho que a faz rodopiar, cegando-a para o que está bem ali na sua frente. Ela cansa de ficar parada no mesmo lugar olhando os próprios pés, querendo que eles tenham vida e levem-na. Se ela se permitir dar uns passos – como tem feito – os pés vão criar o hábito de andar. Aí, pernas pra que te quero!
Ela tem um nome que não posso dizer em vão. Deus a fez assim baixinha, magrinha, quieta no seu canto e muitos não sabem que o Deus que a habita é maior do que todos, porque é aquele Deus que quietinho vai operando milagres dentro dela. Às vezes, ela nem sente e acha o mundo paradinho, paradinho. Ela ainda nem percebeu que o terremoto passou e agora lhe resta catar as coisas, reconstruir a casa e nela habitar.
Não importa, minha amiga, com quem ou onde você estará. Basta que você esteja com você. E aquele camarada lá de cima lhe fará ver as cores do mundo, que a vida é muito mais do que os seus pés parados, a sua visão insegura da vida. A vida, querida, é para ser vivida.
Tome a vida em suas mãos e siga. Tá aí bem dentro de você o necessário para seguir. Abra as mãos e se solte, acredite em você. Tente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Só alguém tão sensível, verdadeira e inteligente como você, poderia compreender e descrever fielmente aquela que ainda sou. Sua paciência e compreensão, seu carinho, sua
preocupação e sobretudo os seus carões foram decisivos para que eu não caísse. Você é muito responsável pelos passos que tenho dado. Passos muito importantes para mim! Tenho certeza que um dia riremos juntas dessa mulher imatura, insegura, baixinha e magrinha que hoje sou. Muito obrigada por essa demonstração tão grandiosa de carinho, respeito e afeto. Aliás, muito obrigada por tudo! Você, minha querida amiga, mora no meu coração. Beijos

Flávia disse...

És responsével pelo que cativas, Ednice!

Responsável pelo caminhar, crescimento e evolução dos que cativas.

Assim como sua amiga magrinha eu também carrego a marca desse teu amor. E todo dia te agradeço!