quarta-feira, outubro 13

Away

Sempre poderia não ser.
Como são os dias desde a hora que passo
pela porta de um ônibus que me leva
para onde me fecho entre paredes,
janelas de vidros sujos
e entre frestas vejo ruas e gentes.
Gentes iguais a mim por fora
e por dentro tão diferentes
diferente com tua saia e trança
e calças e paletós
dos teus pensamentos, sentimentos
que não me são mais, nem me chegam
e mesmo assim me cegam
o que vai por dentro
anuviando os amanheceres e noites
madrugadas quase sem fim
quando o telefone ao meu lado
repousa barulhento infiltrado
dos meus pensamentos, dores
desejos de voz, abraços
pimentas chocolates e cafés.

sábado, outubro 9

Sem nome

Um conto: Com o filho morto nos braços uma mulher procura Buda para que este faça reviver seu filho. Buda lhe pede que vá de casa em casa em busca de um grão de mostarda. Mas, os grãos só servirão se vierem de uma casa onde nunca houvera uma perda. A mulher não encontra tal casa.
O luto não existe apenas na morte literalmente de alguém. Uma separação, uma ruptura deixa-nos em luto. E assim, vivenciamos choque, negação, raiva, depressão, culpa, ansiedade e aceitação. Não necessariamente nessa ordem ou um de cada vez. No mais das vezes, tudo se mistura e o único remédio é chorar e esperar. O quanto dura e a intensidade de todas essas emoções depende de cada um, suas vivências, temores, fé e esperança.
No início o atordoamento. Aquilo não poderia ter acontecido; não comigo que fiz tudo tão certo, tão merecedora que fui, tanto espaço que dei para que a vida fosse vivida e a escolha fosse feita. A escolha foi feita e comunicada. Depois a negação: não, é uma fase, vai passar, não é verdade, não pode ser verdade!
A raiva. Uma raiva que corrói, vai moendo todo o seu ser, vontade de gritar, pedir explicações para aquilo que não é entendido, vontade de se sentir menos idiota, subentendidos, mal entendidos, verdades que aparecem em passe mágico e que antes mascaradas se escondiam, omissões e ausências. A depressão: sabe-se que não há remédio que passe a dor, tampouco se volta no tempo, aquilo é verdade e lhe resta apenas aprender a conviver com a dor, com a ausência, enfrentar a raiva que lhe consome, pois ela não mata ninguém a não ser a si mesmo.
Na impossibilidade das respostas, instala-se a culpa. Errei, fiz tudo errado, era assim, fiz assim; o outro assume ares de santo, coitado!, agiu tão bem, teve tanta paciência, só podia mesmo agir assim, não teve escolha.
A vida assume um sentido de fatalidade, alguma coisa vai acontecer, o medo torna os passos indecisos, as noites insones, o pensamento em desaparecer se torna mais forte, as coisas vão mudar, se terá o mesmo caminho ainda que diferente. Ansiedade que mal respira, que bebe, que fuma e que mata, que chora por uma data marcante já não comemorada, por pequenos gestos esquecidos.
E um dia, você já não quer mais nada de ninguém, quer apenas viver sem medo, sem noites mal dormidas, até sem amor. Quer apenas respirar sem sentir o estômago doer, quer apenas aproveitar a claridade. Dentro de você ainda persiste uma tênue dor. Uma saudade será para sempre. Às vezes dolorida pelo que não foi, por querer muito mais; às vezes, agradecida pelo que foi.
Entretanto, para se chegar a esse dia, muitas águas, muitas horas, marcas, gavetas abertas e fechadas, uma esperança que se constrói e morre vezes sem conta. Não há tempo a cumprir. Meses, anos. Um tempo ainda a alcançar.
C’est la vie. Como sempre foi, como sempre será. Perdas.

domingo, setembro 12

Bell

Ontem na padaria uma mulher dizia a um rapaz que o que tinha acontecido seria bom porque assim fulana teria um crescimento espiritual. Uns meses atrás uma amiga me emprestou o livro Quem me roubou de mim do Pe. Fábio de Melo. E tá lá, grifado pela minha amiga: "Não é justo que o ser humano passe pelas experiências de calvário sem que delas nasçam experiências de ressurreições".

Aprendo a não esperar nada de ninguém. Aprendo a conviver com a mentira, ou como querem, a omissão - um nome menos ruim para a mesma mentira. Há mentira e mentira, todos sabemos. Mentira desnecessária para mim é aquela mentira contada com a desculpa que é para me proteger, me poupar. Quer ferida maior que a mentira? Não sou de porcelana e escolho a mais dura verdade à mais suave mentira. Mentira para me poupar é a mentira que me tira a dignidade, que não respeita o que sou nem o que construo nas relações. É jogar na minha cara o quão me acham idiota. A mentira é sempre uma agressão ao outro, desprezo pelo outro. E a si mesmo, o que a mentira causa?

Não tenho nada para colocar no lugar. Na gaveta.

Espero experiências de ressurrreição.

sexta-feira, agosto 13

Not now

Quando puder, escreverei.
Agora, não.
Agora letras teimosas insistem em palavras
que não quero sentir.
Quando puder, escreverei.
Agora, não.
Agora palavras quero esquecer
preciso amontoá-las em sacos pretos
à espera do caminhão.
Quando puder, escreverei.
Agora, não.
Agora quero criar pontas de asas.
Quando puder, voarei.
Como já voei, caí e levantei.
Agora, não.
Quando puder.

terça-feira, julho 27

FOME COME

Na abertura da XII MARCO - Mostra de Artes, Ciências e Conhecimento das Escolas Municipais de Natal, o Coral Som da Terra, formado por professores da Rede Municipal de Ensino, apresentou e encantou a todos. Uma das músicas brilhantemente apresentada foi a deste clipe do Grupo Palavra Cantada (o vídeo é com esse grupo).

sábado, julho 17

Cross road

"Tentar dobrar, em vão, tentar abalar
as velhas, rijas barras, impossíveis de mover?
Elas não se esticarão, não se quebrarão,
pois, as barras estão rebitadas e forjadas dentro de mim
e não ruirão enquanto eu não ruir também."
Gustaf Fröding - poeta sueco(1860-1911)

sábado, junho 5

Music three

Hoje não é dia de nada. Só de saudade.
O primeiro recado. A primeira madrugada.
Years ago. The time goes by.

domingo, maio 16

Why????????

Hoje é necessário paciência para viver. Paciência para não esperar. Para não sofrer, para amenizar a dor daquilo que está posto e não se pode alterar. A paciência se faz necessária para se amar em silêncio. O amor não pode ser pronunciado. Não falar. Não gritar. Hoje se faz necessário não morrer.
Mas, morre-se. E hoje é necessário aceitar a vontade de Deus. Hoje é necessário começar a conviver com a ausência de o professor Wanildo que até há 15 dias dava aula, alto, sorridente e feliz. Hoje se mudou para a terra de Deus. Seus colegas tristes, atarantados, não sabem o que fazer, nem mesmo o que pensar. Go in peace, teacher; thanks for your friendship.
Às minhas dores, junto mais uma. Paciência!

sexta-feira, maio 14

domingo, maio 2

domingo, fevereiro 28

Tudo por enquanto sempre

"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre
Sempre acaba..."

Agora estou de volta pra casa.
Casulo.

sexta-feira, fevereiro 12

Diez

Hemos perdido aun este crepúsculo.
Nadie nos vio esta tarde com las manos unidas
mientras la noche azul caía sobre el mundo.
He visto desde mi ventana
la fiesta del poniente em los cerros lejanos.
A veces como uma moneda
se encendía um pedazo de sol entre mis manos.
Yo te recordaba com el alma apretada
de esa tristeza que tu me conoces.
Entonces, dónde estabas?
Entre qué gentes?
Diciendo qué palabras?
Por qué se me vendrá todo el amor de golpe
cuando me siento triste, y te siento lejana?
Cayó el libro que siempre se toma em el crespúsculo,
y como um perro herido rodo a mis pies mi capa.
Siempre, siempre te alejas em las tardes
hacia donde el crepúsculo corre borrando estatuas.


(Veinte poemas de amor y una canción desesperada - Pablo Neruda)


domingo, fevereiro 7

Insônia

Agora que você se vai
partem-se todos os cristais
através dos quais eu via

e vivia o mundo.

sábado, fevereiro 6

Dezoito

Aquí te amo.
Em los oscuros pinos se desenreda el viento.
Fosforece la luna sobre las aguas errantes.
Andan días iguales perseguiéndose.
Se deciñe la niebla em danzantes figuras.
Uma gaviota de plata se descuelga del ocaso.
A veces uma vela. Altas, altas estrellas.
O la cruz negra de um barco.
Solo.
A veces amanezco, y hasta mi alma está húmeda.
Suena, resuena el mar lejano.
Este es um puerto.
Aquí te amo.
Aquí te amo y em vano te oculta el horizonte.
Te estoy amando aún entre estas frias cosas.
A veces van mis besos em esos barcos graves,
que corren por el mar hacia donde no llegan.
Ya me veo olvidado como estas viejas anclas.
Son más tristes los muelles cuando atraca la tarde.
Se fatiga mi vida inúltimente hambrienta.
Amo lo que no tengo. Estás tu tan distante.
Mi hastío forcejea com los lentos crepúsculos.
Pero la noche llega y comieza a cantarme.
La luna hace girar su rodage de sueño.
Me miran com tus ojos las estrellas más grandes.
Y como yo te amo, los pinos en el viento,

quieren cantar tu nombre com sus hojas de alambre.
(Veinte poemas de amor y una canción desesperada - NERUDA)