quarta-feira, março 30

Outdoor

Saindo para almoçar, passo em uma grande avenida da cidade e vejo o outdoor com uma frase, ao fundo uma foto de um carro belíssimo: "Carol, a fila anda. Eu estou fazendo mais sucesso do que o carro aí de cima. Beto." Fiquei pensando na Carol. Coitada! E na coragem do Beto em alardear para a cidade inteira - pelo menos a parte que transita por ali - sua dolce revanche. Pode ser que Beto não esteja bem, pode ser que Carol esteja. É mais provável que Carol esteja péssima e Beto melhor do que coube as palavras no outdoor.

Fiquei pensando na vida. Não nas filas, mas nas voltas que a vida nos dá. Passamos a vida inteira planejando formas de dá um jeito na vida, quando na verdade é ela que vai dando voltas e nos dando um jeito. De tanto jeito que nos dá, a gente termina um belo dia com o jeito da vida.

Depois disso, a gente começa a pensar no jeito que vai dá à vida que nos fez tomar esse jeito. E de jeito em jeito, a gente toma jeito, a vida toma forma.

E como tudo que se escreve já foi dito por alguém, nada melhor que a poesia do velho e bom Chico Buarque.


segunda-feira, março 28

L'amour


Em 1875, George Bizet, compositor clássico francês, escreveu a ópera Carmem, na qual conta a estória de uma cigana envolvida com um soldado, a quem no final, depois de atraí-lo para o bando de contrabandista, anuncia não mais amar, preferindo ficar com um toureiro.

A música hoje se tornou bastante popular nas vozes de cantoras clássicas, como Sarah Bringhtam ou Nana Mouskori.

O que a ópera - e a música especialmente - conta é que o amor é um pássaro rebelde, ninguém o aprisiona, sendo um ser dotado de poder e querer próprios. Quantos de nós já não se perguntou por que amava fulano e não sicrano? Além de ser rebelde, o amor é boêmio, sem lei e amamos quem não nos ama, quem nos ama nós não amamos, embora, como já dissera o poeta, "viver é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida'.

Pensando surpreender o amor, ter domínio sobre ele, de repente é apenas um pássaro que voou, um sonho perdido, um vazio no chão onde antes havia escadas. E se vai, volta e a ciranda da vida recomeça.

A música - a ópera inteira, aliás - mostra o cuidado que se deve ter com o ente amado. Tanto com quem amamos, como com quem deixamos, embora a dor do deixar só o tempo cure.

Como todo amor vivido intensamente, traído também de uma forma intensa, Carmem não tem um final feliz: Dom Jose a mata, preferindo isso a vê-la com outro.

O que não tem futuro e é um péssimo exemplo. Mas, a música, passados 136 anos, é atual, como o é o amor. Um exemplo que a obra sobrevive ao homem e os males de amores da era moderna não mudaram nada dedsde o tempo de antanho.

sábado, março 19

Onda

"Encostei-me a ti, sabendo bem
que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem,
depus a minha vida em ti.

Como sabia bem tudo isso, e
dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar
quando caí."
Cecília Meireles.
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"Para quem quer se soltar...
invento o mar,
invento em mim o sonhador".
Milton Nascimento & Ronaldo Bastos

domingo, março 6

Vino

Minha alimentação é pão e palavras.
O vinagre aquece o pão,
o sal amarga as palavras.
Quem me dera para produzir palavras
a embriaguez do vinho
o mel das flores.
Esqueceria os sentimentos
viveria somente pelo hoje.