sexta-feira, janeiro 18

PaisAGEM



Os olhos se derramam pela paisagem. Até onde o mar alcança é só lágrima e tristeza. Saudade marinheira.
Sob os pés a areia lhe parece estranha, vontade de asas. No início, a ausência lhe parecera temporária, tempo de uma estação. A da esperança. Ocupara-se tecendo a teia que à noite era proteção contra os ventos à porta de casa.
Os olhos se derramam pela paisagem. Até onde o sertão alcança é só mágoa e dor. Saudade sertaneja.
Sob as mãos o algodão lhe parece estranho, vontade de linho. No início, a ausência lhe parecera eterna, tempo de uma vida. A da resignação. Ocupara-se guardando o sol que à noite era esconderijo contra os desejos à beira da cama.
Os olhos se derramam pela paisagem. Até onde a planície alcança é só desamparo e solidão. Saudade invernal.
Sob o rosto os vincos lhe parecem rudes, vontade de velhice. No início, a ausência lhe parecera vaidade, tempo de uma fase. A da desilusão. Ocupara-se guardando o ar que à noite era líquido contra o tempo escoando pelas mãos.
Os olhos se derramam pela paisagem. Até onde o horizonte alcança é só cansaço e fim. Saudade imortal.

terça-feira, janeiro 1

Cair, levantar



Há um ano atrás, postava aqui que uma esperança aparecera no quarto da casa onde passara o réveillon. E desejava que o ano a iniciar fosse bom. Foi - esquecendo as peripécias da gestão municipal.
Não tive maiores dissabores, tampouco decepções que matassem a minha crença na humanidade. Talvez porque já tenha aprendido a não esperar demais - criar grandes expectativas, esperar por cavalos brancos, príncipes, realizações de utopias é garantia certa de grandes quedas.
É necessário que aprendamos a cair. É na queda - através dela - que conseguimos os maiores saltos, o pé dá o maior impulso alcançando aquilo mesmo que anteriormente nos fez cair. Alteração de rota é essencial quando pretendemos seguir. Linha reta é para trem, e esse ainda tem suas curvas - em linhas! Permanecer em uma rota pré-determinada mesmo sabendo que o erro nos guarda é burrice, é teimosia. Ser persistente não é teimosia. Persistência é seguir por caminhos dantes navegados sem perder a fé, a coragem.
Sou recorrente em algumas citações, mas realmente acredito que "os ombros suportam o mundo", como diz a bela metáfora de Drummond. Como também tento acreditar e seguir Matheus, o Evangelista, ao afirmar que "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã preocupar-se-à consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal".
Não é tarefa fácil. A ansiedade, inerente ao homem, faz com que tenhamos uma pressa enorme em fazer as coisas acontecerem do nosso modo. Nosso modo é apenas um entre tantos!