Precisamente na noite de quarta-feira de cinzas faltou energia aqui no bairro. Se minha avó materna fosse viva diria que era castigo de Deus pelos excessos carnavalescos! (Será que foi?) Sem computador, sem ler, sem tv, fiquei pensando como seria o mundo sem a eletricidade. Sem eletricidade o que estou fazendo agora seria impossível. A fruta que rapidamente transformo em suco no liqüidificador e ponho para gelar na geladeira não seria possível. A música que ouço no cd player e mesmo no interior do carro não seria executada. Leria, dormiria a luz de vela. Nos dias frios, meu chuveiro não me daria nem uma nesga de água deliciosamente morna. O porteiro eletrônico do prédio não funcionaria (o que no meu caso não faria muita diferença, pois o existente aqui fica muito tempo quebrado!). Engomar seria uma das tarefas mais árduas de qualquer mulher (a maioria dos homens ainda continua sem ter esse "prazer"). As agonias das novelas não seriam sentidas por milhares de mortais por esse ...
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS