"Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota..." (MEIRELES, Cecília. Das Palavras Aéreas. In.: Romanceiro da Inconfidência.) A cada batida do coração o homem pensa que ama. Se a palavra não existisse, como amaria o homem? A cada lágrima que do rosto cai, o homem diz que sofre. Se a palavra não existisse, como choraria o homem? A cada abraço apertado, imagina o homem a amizade. Se não se fizesse a palavra, como se irmanaria o homem? A cada palavra pronunciada finge o homem revelar-se. Se não houvesse palavras, que significado teria o ho...
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS