A areia quente da praia não permite um andar vagaroso. A falta de firmeza a impede de correr. Às 8 da manhã já percorria a orla indo e vindo e até agora muitos nãos. Meio dia, a hora mais adequada para que consiga o que quer. Caso não se arranje até as três horas, o jeito será desistir, dobrando-se cansada, guardando-se para amanhã. Nessa época a cidade é um amontoado pelas praias, pelas ruas. Os bares cheios a toda hora, carros tomando ruas e calçadas. Os bares não têm o que procura, nem mesmo aqueles à beira-mar, não querem o que está oferecendo. Nas ruas não encontra pretensa companhia, mesmo com tanta gente. O melhor lugar é a praia. Como há muitas, tem que escolher a cada dia aonde vai, pois o dinheiro não dá para pegar condução de uma zona a outra da cidade. Quando escolhe o litoral - sul ou norte - percorre todas as praias à beira d'água, molhando-se em parte, o que a deixa pesada, quase se arrastando pela areia. Todo o verão vive isso. Teimosamente resiste contrária às opi...
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS