Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de maio, 2008

Nada maiS

O primeiro que Rita encontrou foi um par de brincos sob o travesseiro. Duas argolas prateadas. Não se assustou. Certamente Mariana, sua sobrinha de oito anos, tinha deixado os brincos ali na hora de assistir tv, embora não fossem brincos de crianças. Colocou-os na estante para devolver, não sem antes fazer Mariana entender que não apressasse o tempo da infância. Cinco dias depois, domingo na hora da missa, ao procurar o rosário encontrou na gaveta um sutiã vermelho um número menor que os seus. Do sutiã vinha um perfume de sândalo misturado a cheiro de bebida que uma mancha bem no peito não deixava dúvida. Chateada, porque aquela coisa escarlate deveria ser de Rosana, a irmã destrambelhada que tinha, jogou o sutiã sobre o cabide para entregar depois. Ao acordar naquela segunda-feira, a cabeça doía-lhe como bebedeira de véspera. Mas nada bebera além das duas taças de vinho, um tanto assim irrisório para provocar tamanho enfado. A dor a água fria do banho aliviou o suficiente para se...

Sem tempo

Quem passa sempre por aqui talvez estranhe o espaço entre uma postagem e outra. Ando ligada demais no trabalho, pois dez meses depois de férias, licenças, retornei. Não digo que ao batente, pois tantos anos depois não sei se trabalho pra mim é pegar no batente. De tanto subir escadas e descer ladeiras, a gente fica assim um tanto anestesiado com tudo que nos acontece na vida profissional. Em alguns momentos até parece que saímos de nós e flutuamos além da cena, contemplando-a com uma certa descrença. O danado é que quando nos fazemos de um jeito não há jeito de mudar. Trabalhar na área de educação é uma mão dupla sempre, há inevitavelmente um prazer misturado à frustração de não se conseguir todo o sonhado, há sempre o esforço para manter a chama acesa, dizendo-se a si mesmo que daqui a uns anos aquelas lições darão frutos. Há uma mania generalizada de na educação se criar uma metáfora com árvore, com frutos como se nós, educadores, fossemos os únicos responsáveis pelo futuro de crianç...