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Mostrando postagens de agosto, 2008

Bem-me-quer, mal-me-quer

Ao perceber que o sonho cuidadosamente planejado era só seu; ao sentir no corpo o afastamento da paixão de Pedro; ao contar noites mal dormidas dominadas pela saudade, Alzira soube que nada mais lhe restava daquilo que era a sua vida. A vida que em casas separadas vivia com Pedro há quatro anos. Passara o tempo “de tudo ao meu amor serei atento”. Agora, tempo de brumas, de mãos espalmadas segurando o espanto, espumas de repente, “não mais que de repente”. Bem que não fora assim tão de repente; mas, surda e cega, pensara que aqueles sinais eram apenas isto: sinais, crise passageira. Enganara-se, redondamente se enganara. E o resultado é este que se posta bem aí a sua frente, remediado está. Da caixa escondida no fundo do guarda-roupa retira o que sobrara, papéis amarelados com o amor escrito em mau português, letra miúda, recortes de poemas entre corações desenhados. Até mesmo uma peça íntima vermelha no meio do papel manteiga recorda-lhe os tempos. Num ímpeto, rasga; não, estraçalha a ...