Quando a conheci, tinha o cabelo penteado de modo casual para parecer despenteado, não muito longo, de uma cor que hoje não sei mais precisar. Possivelmente louro, mas não o convencional para se associar à famigerada fama de loura burra. De burra não tinha nada; aliás, não tem. Era abril de 1991 e sua chegada provocou um verdadeiro terremoto em um lugar acostumado à mesmice, onde quem tinha muitos anos de trabalho se vangloriava do tempo, do amor pelo lugar, mas preferia que nada fosse alterado. Alterar era questionar, inquietar-se, possivelmente trabalhar mais. Incisiva, não demorou a anunciar a que tinha ido. Não estava ali pelos seus belos olhos claros, mas para colocar em prática suas idéias sobre o que seria uma educação de qualidade. Tinha em si uma força e uma coragem ímpares, embora em alguns momentos parecesse desiludida com a natureza humana, com os discursos distanciados da prática. Contudo, não perdia os rumos. Cautelosa, observou o espaço, as pessoas, dando-lhes tempo para...
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS