Quando puder, escreverei. Agora, não. Agora letras teimosas insistem em palavras que não quero sentir. Quando puder, escreverei. Agora, não. Agora palavras quero esquecer preciso amontoá-las em sacos pretos à espera do caminhão. Quando puder, escreverei. Agora, não. Agora quero criar pontas de asas. Quando puder, voarei. Como já voei, caí e levantei. Agora, não. Quando puder.
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS