Dia desses, precisamente em 07 de setembro, sem ânimo e patriotismo para ver Parada Militar, fui com amigos comer ginga com tapioca na Redinha. E constatei o quanto praia é território livre e democrático. Avessa à água, pra mim só a de chuveiro!, enquanto saboreava o par tapioca-ginga, observava o vai e vem da pequena multidão. Uma variedade de tons e sons me fazia pensar o quanto somos elitistas, o quanto o povo se contenta com pouco - ou pelo menos se diverte com pouco! Talvez não seja o caso de usar o verbo contentar-se, porque minha parca psicologia não inferia se havia contentamento de verdade, aquele contentamento que transborda e deixa uma sensação de felicidade quando tudo se acalma e o divertimento se vai - havia, sim, um contentamento instantâneo, inegável pelas risadas, cervejas, requebros. E por que somos elitistas? Professor tem a mania de não se considerar povo. Povo é aquela pessoa que não é letrada - não que seja analfabeta, mas não alcançou o letramento conceitu...
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS