Quando te pensei costura A linha se emaranhou em minha mão Feito lã e gato enovelados. Quando te pensei poente O sol se fez inverno em tua face Feito frio e agasalho acasalados. Quando te pensei copo A água se fez mais límpida em meu olho Feito gelo e calor emparelhados. Agora que fazes costura em minh’alma E lavas minha ternura em teu agasalho Não há frio nem poente. Não há limpidez maior em minha face Nem linha em traçado tão caliente. Agora que em minh’alma calor fazes.
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS