Falar de notícia para quê? As mortes se agigantam, sangram nas telas absorvem papéis. Crianças são abandonadas nas ruas, em elevador. A insolência é tão grande, a crença na impunidade é tão intensa que não se importam mais que o mal seja às claras, aberto, escancarado debochado na cara dos justos. Não se tem paciência de segurar na mão do menino e dizer fique quieto, sua mãe já volta. Para o passeio do cachorro a patroa deixa tempo sobe e não desce. Entre a bolsa e a vida, a bolsa vazia de nada serve mas no tempo de depois o rio correria como sempre trocar de bolsa, melhorar. Sem vida, sem bolsa, perdido tudo. Viver se torna mais duro e os poderes que se pensam imunes não moram debaixo de árvores, canteiros pelas ruas não veem estrelas em barracão de zinco - coisa de poética! Não há poesia na fome, na dor. Afinal, pensam eles, para que tanto alarde é só um negro a mais que o policial tira da rua um velho a mais q...
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS