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Mostrando postagens de janeiro, 2007

Miolo de quartinha e carga d'água

Não adianta. Não adianta colocar os dedos sobre o teclado e fazer um download que me leve à inspiração quando os acontecimentos me travam para o escrever e preencher o espaço do blog esta semana. Já pensei numa série de coisas, fictícias ou reais, e nada. Já li alguns jornais em busca de uma notícia que merecesse um comentário e nada. E olha que encontrei um bocado de coisa: no Paraná, um cinegrafista morreu atropelado por um avião. O rapaz de apenas 26 anos, olhando pela angular da câmera, não percebeu que o avião estava verdadeiramente próximo e sofreu o impacto fatal. Um marinheiro russo, servindo em um submarino, foi preso porque plantou maconha em uns jarrinhos perto da escotilha e estava "abastecendo" os colegas (isso sim é que visão capitalista!); o estilista famoso da Luciana Giminez, Ronaldo não sei das quantas, foi preso no cemitério roubando dois vasos de flores. Ele se explicou cientificamente: disse que estava tomando um remédio antidepressivo que o fazia comete...

O ato nosso de cada dia

Com dinheiro pouco, entre comprar um livro cobiçado e uma blusa necessária, prefiro o livro. Quem senta comigo em restaurante sabe que ao final meu impulso é juntar os pratos e limpar a mesa. Maníaca por revista, antes de ler, folheio-a de trás para frente. Quem trabalha comigo vê minha agonia em dar conta da papelada sobre a mesa, em organizar os documentos em pasta e revirar as gavetas frequentemente, jogando o desnecessário fora. Anormal? Transtorno obsessivo compulsivo? Uma amiga não usa sabonete em banheiro público, a não ser que seja líquido. Outra, na época que trocaram as lâmpadas públicas de mercúrio pelas de sódio, me telefonou dizendo que o remédio antidepressivo estava fazendo-a ver as ruas amarelas. Uma outra adora misturar sobremesas doces com salgados. Kim Bassinger, ao ganhar o Oscar pela sua atuação no filme Los Angeles – Cidade Proibida, torcia muito mais para perder do que para ganhar, pois ganhando, ela teria que ir à frente e dizer algo. A atriz sofria de Síndrome ...

Leão ao meio-dia

O leão apareceu no meu caminho ao meio dia em plena avenida, carros e gente passando em linhas retas e transversais. Quando pus o pé na faixa de pedestre, olhei o sinal, levantei o olhar: lá estava a fera, à espreita, prontíssima a me devorar! Sua roupa vermelha alardeava ainda mais suas intenções - não segundas, mas primeira e única: me derrubar ali mesmo. (Se o momento não fosse tão trágico, eu teria rido: aquele leão vestido de vermelho era uma pantomima ridícula de uma tourada servilhana, fazendo da avenida uma arena, certamente esperando ansioso o Olé da multidão!). Atônita pela surpresa, recuei. O pé voltou em câmera lenta para a calçada e meus olhos relâmpagos relancearam ao redor para ver se alguém estava tomando alguma atitude. Nada. Ninguém deu a mínima para o leão, todos passaram a faixa tranquilamente, prestando atenção aos carros, ao semáforo e tomando cuidado para não atrapalhar a travessia do outro. O leão lá. Claro agora que o alvo era eu. Mas, o que diabo aquele leão t...

EnFIM, a diva!

Depois de seis anos, dolorosa ausência para os ardorosos fãs, a diva Marisa Monte apresentou-se dia 09 no Machadinho para uma platéia bem comportada que cantou todas as músicas, mesmo as dos discos mais novos que não têm um hit popularizado por novela, como Velha Infância, que abusou, apesar da beleza da música (música posta em novela é uma praga: beneficia o cantor por um lado e estraga nosso ouvido por outro!). A tão malfadada acústica do ginásio não prejudicou em nada a apresentação daquela moça mirradinha, cor de leite, que durante o show passou várias vezes as mãos pelo cabelo numa tentativa de domar a mata em meio a um calor de verão e de refletores. A acústica não prejudicou por uma razão simples e direta: quem sabe, canta; quem não sabe, põe a culpa no equipamento, no local e etc. (Acústica deficiente só foi sentida num pequeno solo de trompete, que ficou parecendo um retinir agudo de apito de trem). A iluminação, criativa e esteticamente bela, adaptada para um show em ginásio,...

Dançando na vida

Ultimamente, filmes animados estão sendo produzidos com melhor qualidade e quase sempre com um formato meio fábula, aquela historinha que nos contavam anos atrás e que obrigatoriamente ao final tinha uma moral. Se os pais forem bem atentos aprendem muito mais do que as crianças assistindo os tais filmes. A bola da vez é Happy Feet. Na onda do filme documentário A Marcha dos Pingüins, lançado em 2005 e dirigido por Luc Jacquet, o filme mostra o dilema de um filhote de pingüim que nasce sapateando para desespero dos pais que já se mostram preocupados – pais têm a capacidade de projetar as preocupações para um tempo futuro infindo: o bebê acaba de pôr a boca no mundo e os camaradas já estão preocupados se ele vai ser médico ou pedreiro! Para os pingüins imperadores é crucial saber cantar, porque se não, nada de acasalamento. Pingüim solteirão nem pensar – se for dançarino, levando pecha de "frutinha" é morte certa (pelo menos pros pais!). Nessa fábula, o que podemos observar é a...

Año nuevo à la Mafalda

1. Mais um ônibus foi incendiado por bandidos no Rio de Janeiro da mesma forma que os anteriores: bandidos chegam, pedem aos passageiros que desçam e fogo! Secretário de Segurança assegura (em que pese a redundância semântica, já que se é de Segurança é para assegurar) que é necessário a intervenção das Forças Armadas; 2. A manchete diz que gêmeos idênticos nasceram em anos diferentes. Isso sim é que é manchete que desperta curiosidade (e que jornalista bão, hem?!!). Corre-se para ler a notícia e tá lá: um chamado Marcos nasceu às 23h59h de 31 de dezembro de 2006; o outro, por Mateus chamado, nasceu à 0h01 do dia 1º de janeiro de 2007. Para completar a notícia, são mineiros, numa prova inequívoca que mineiro é mesmo um povo que fala pouco, quietinho, tão quietinho que inventou os gêmeos atemporais, uai, sô! 3. Todo final de ano, ou bem no início de janeiro, há vestibular. Milhares de jovens brasileiros se agoniam, apavoram-se no nervosismo das provas, tentando vaga em Universidade. Um...

El tiempo pasa

Hoje é Dia Mundial da Paz, Dia da Confraternização Universal. Hoje para os cristãos é Dia de Ano Novo. Mesmo que queiramos considerar este 1º de janeiro um dia como outro qualquer, lá no fundo sabemos que estamos refazendo metas, virando gavetas, jogando coisas/sentimentos fora numa onda de esperança que nos toma para sanar as dores do tempo passado. Revirar as gavetas dos armários é muito fácil. Revirar sentimentos é cravar um punhal no âmago de nós mesmos, torcendo-o até sangrar além da conta. Mesmo que Drummond tenha afirmado que "os ombros suportam o mundo/e ele não pesa mais que a mão de uma criança" , às vezes é difícil não considerar que a tarefa é semelhante à sina de Sísifo condenado a rolar uma pedra montanha acima para em seguida vê-la rolar montanha abaixo, refazendo interminavelmente a tarefa. Porém, lá no recôndito da alma reside "uma louca chamada Esperança/E ela pensa que quando todas as sirenas/Todas as buzinas/Todos os recos-recos tocarem(...)Ela será e...