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Mostrando postagens de julho, 2007

SoNHo de Ícaro

Na mitologia grega, o céu era a morada dos deuses, sendo inalcançável aos pobres mortais. Na ânsia de fugir do labirinto na Ilha de Creta, Dédalo cola penas dos pássaros nas asas que construiu e instrui seu filho Ícaro a não subir muito, pois o sol derreteria a cera, tampouco ficar muito junto ao mar, a umidade faria as asas pesarem demais. Empolgado pelo prazer de voar, Ícaro não ouve o pai e cai, morrendo. Manifestava-se ali o desejo do homem de ser sempre mais, ir além dos seus próprios limites. Por desobediência, Ícaro estatela-se no chão. Por desobediência, Adão e Eva são expulsos do Paraíso, pois não lhes bastara aquele conhecimento dado por Deus e ao querer mais provaram da árvore do conhecimento e se deram mal (nunca entendi porque uma maça, fruta insípida - linda, é verdade, mas sem gosto - poderia ter sido uma deliciosa jaca ou uma manga!). Assim, da mitologia à crença cristã, caminha a humanidade sempre à procura de algo mais, seguindo na superação dos seus limites. Voar no...

Palavras X Atitudes

"O humorismo alivia-nos das vicissitudes da vida, ativando o nosso senso de proporção e revelando-nos que a seriedade exagerada tende ao absurdo." A frase é atribuída ao grande Charles Chaplin, informação que encontro no livrinho O Pensamento Vivo de Chaplin, uma coletânea editada pela Martin Claret lá pelo final dos anos 80. O meu interesse na frase é apenas justificar a imagem ao lado que correu e-mail nessa semana em que se comemorou o Dia do Amigo (não sei de onde veio a imagem). A frase conclusiva é corretíssima, mas dá uma agonia danada se associada à imagem! Já pensou se nossos amigos agirem assim?

Lady Lu

Tenho uma amiga que não conheço, com quem tenho, contra todas as previsões contrárias possíveis, algumas afinidades, por assim dizer, "mediúnicas" (quem me perdoem os kardecistas). Seu nome é luz, a origem latina significando luminosa, por que luz ela é. A poucos metros da sua casa baiana, ela alcança o mar, onde lava os pés, às vezes mergulha, e rotineiramente o contempla como se contemplam as coisas grandiosas da vida: maravilhada e inquisitivamente. Naquele espelho d'água, ela espera vê Deus e se pergunta vezes sem conta o porquê da crueldade, dos desatinos humanos; também agradece as surpresas boas, as dádivas que a vida lhe oferece e ali, naquela contemplação, sente-se pequenina, pequenina diante do poder divino. Minha amiga tem o dom da diplomacia. Não pode ver fogo, seja verbal, "escritural", cara a cara, que sai logo apartando os contendores armada de uma mangueira imensa carregada de palavra afáveis, conciliadoras. Nunca a "li" com raiva, tamp...

De livro e inquietações

Terminei de ler As Codornas e o Outono , livro do egípcio Nagib Marfuz , Nobel de 1988. Uma coisa chama à atenção no livro: a identidade que construímos intimamente ligada à profissão que exercemos. O personagem, funcionário público, vê-se no meio do redemoinho provocado pelas mudanças políticas ocorridas durante um período no Egito, as quais ele não se adapta, desejando uma retomada à situação quando vivia no círculo dos poderosos. Aos poucos, Issa – esse o nome do personagem – vai perdendo prestígio, uma filha que não reconheceu, a mulher que não soube amar, ganhando vícios, dívidas, perdendo chão. Não sei dizer se gostei do livro, pois ele me causou uma inquietação pelo momento em que vivo. Perdendo chão, ou um pedaço dele, por deixar um local onde por muitos anos trabalhei. O trabalho em escola me absorveu durante todo esse tempo e, mesmo com todas as dificuldades e desilusões que a profissão carrega, não vejo nada que se compare ao convívio com alunos, aquele mundo de gente de tod...