Na mitologia grega, o céu era a morada dos deuses, sendo inalcançável aos pobres mortais. Na ânsia de fugir do labirinto na Ilha de Creta, Dédalo cola penas dos pássaros nas asas que construiu e instrui seu filho Ícaro a não subir muito, pois o sol derreteria a cera, tampouco ficar muito junto ao mar, a umidade faria as asas pesarem demais. Empolgado pelo prazer de voar, Ícaro não ouve o pai e cai, morrendo. Manifestava-se ali o desejo do homem de ser sempre mais, ir além dos seus próprios limites. Por desobediência, Ícaro estatela-se no chão. Por desobediência, Adão e Eva são expulsos do Paraíso, pois não lhes bastara aquele conhecimento dado por Deus e ao querer mais provaram da árvore do conhecimento e se deram mal (nunca entendi porque uma maça, fruta insípida - linda, é verdade, mas sem gosto - poderia ter sido uma deliciosa jaca ou uma manga!). Assim, da mitologia à crença cristã, caminha a humanidade sempre à procura de algo mais, seguindo na superação dos seus limites. Voar no...
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. MANOEL DE BARROS