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Mostrando postagens de 2011

TreM

Encrustadas em nós de madeira açafrão vermelho sobre a cerca lavas de silêncio serpenteiam na singularidade ímpar de um sonho. Paralisa minha mão sobre o gesto aceno trêmulo na estação no espaço estreito dos trilhos arrepio por dentro de paixão. Vencidos em desejos ímpios meus pecados te arrastam em convulsão no labirinto escuro de madressilvas meu ser descarrila emoções.

Beco

O pensamento se contrai. Fixado no caminho, percorre todas as pedras. Marcas das lágrimas que se misturaram às águas resquícios de uma vida passada ainda presença onírica. O pensamento se descontrai. Os embalos de sábado à noite são sons de bolero lacrimejando lençóis nos escuros das madrugadas. Fixado na janela, percorre todas as dores. O pensamento se retrai. Redemoinho nos recônditos insalubres da alma. Por entre as frestas dos dedos escorrem todas as impurezas de uma vida. Pensamento se distrai. Sentimento que aflora por entre o frio dos lençóis esparrama por todas as pedras secando lágrimas e no peito cria palma mano a mano beso a beso.

Vidraça

Tenho olhos de cristais lamparinas ambulantes pelo teu corpo onde repouso mãos cansadas ávidas de paz. Tenho lábios de metais aços forjados em tua sede na qual umedeço meus dias repletos de cais. Tenho costas de perfumes frascos embebidos em gotas onde fragmento minhas noites acalentadas de ais.

First love

Matheus é apaixonado por Maria. Arriado os quatro pneus e tudo o mais que se pensa de uma paixão. Maria sabe, mas finge que não percebe, ela não pode fazê-lo acreditar que ele é único, especial. É atenciosa com Matheus, puxa conversa daqui, dali e Matheus vai se revelando. Cada dia inventa assunto para se exibir diante da musa. Pra ele a vida é injusta, é o que costuma dizer. Como pode Maria não querer somente a ele? Ele fica desolado com a situação. A paixão de Matheus é tanta que a raiva lhe sobe à cabeça quando Maria dá atenção a outros – seja quem for. Chora, esperneia, pergunta se Maria o ama. No período em que Maria ficou de férias, ele não se conformava que iria ficar duas semanas sem vê-la. Não era justo! O jeito era se virar com os jogos do seu time, torcendo para que ele não perdesse e fosse rebaixado de divisão. Matheus sabe que Maria tem namorado, mas não o conhece. Até já perguntou se os dois moram juntos e ao receber um não como resposta, disse que não entendia, porque na...

Licença

"Eu quero uma licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o sono profundo das espécies, a graça de um estado. Semente. Muito mais que raízes." - Adélia Prado.

Lâmina de ViveR

O pessoal de publicidade é muito criativo ou muito louco - ou ambos. É inegável, no entanto, a visão que se tem sobre a tirania dos baixinhos: crianças à mercê dos pais, querendo que suas vontades prevalençam sobre tudo - o mais grave, sobre todos. O comercial - desconsiderem o título, pois não é o melhor comercial do ano de 2010 - para vender a velha gilette, usa a supremacia da criança sobre o adulto, embora a visão seja muito hollywodiana. Mesmo assim, não se pode deixar de observar que há uma certa apologia à violência para que através dela se consiga o amor da mãe. O complexo de Édipo aí é tão explícito que se chega a sentir pena do pobre pai. Pobres pais, pobres crianças! Pobres de todos nós que vivemos em uma sociedade que para vender lâmina de barbear apela para um mundo no qual a pele dos bebês era tão suave, que a mãe esquecia o marido e este, raivoso, ciumento, descobre a lâmina de barbear que deixará sua pele tão suave quanto a do filho que a esposa acaricia. Aí, é macho ...

ExiStência

Cada dia ou noite é dádiva que o existir nos confia. E será talvez tão sábia quanto é em Deus a alegria. Na imperfeição que se abafa e o humano se procria. A fábula não tem flor, apenas espinho escrito. E onde resvalam mitos, desfilam frutos extintos. E destila sob o nada barril de castiço vinho. E que amor apenas arda até transbordar o corpo, todo copo de alma à alma. E o mundo seja palavra. E a palavra então me sorva. Feito de pó, musgo, sombra, tempo, tempo cobres tudo só a ti mesmo não cobres. CASTIÇA CANÇÃO DE ALMA - CARLOS NEJAR.

Outdoor

Saindo para almoçar, passo em uma grande avenida da cidade e vejo o outdoor com uma frase, ao fundo uma foto de um carro belíssimo: "Carol, a fila anda. Eu estou fazendo mais sucesso do que o carro aí de cima. Beto." Fiquei pensando na Carol. Coitada! E na coragem do Beto em alardear para a cidade inteira - pelo menos a parte que transita por ali - sua dolce revanche. Pode ser que Beto não esteja bem, pode ser que Carol esteja. É mais provável que Carol esteja péssima e Beto melhor do que coube as palavras no outdoor. Fiquei pensando na vida. Não nas filas, mas nas voltas que a vida nos dá. Passamos a vida inteira planejando formas de dá um jeito na vida, quando na verdade é ela que vai dando voltas e nos dando um jeito. De tanto jeito que nos dá, a gente termina um belo dia com o jeito da vida. Depois disso, a gente começa a pensar no jeito que vai dá à vida que nos fez tomar esse jeito. E de jeito em jeito, a gente toma jeito, a vida toma forma. E como tudo que se escreve j...

L'amour

Em 1875, George Bizet, compositor clássico francês, escreveu a ópera Carmem , na qual conta a estória de uma cigana envolvida com um soldado, a quem no final, depois de atraí-lo para o bando de contrabandista, anuncia não mais amar, preferindo ficar com um toureiro. A música hoje se tornou bastante popular nas vozes de cantoras clássicas, como Sarah Bringhtam ou Nana Mouskori. O que a ópera - e a música especialmente - conta é que o amor é um pássaro rebelde, ninguém o aprisiona, sendo um ser dotado de poder e querer próprios. Quantos de nós já não se perguntou por que amava fulano e não sicrano? Além de ser rebelde, o amor é boêmio, sem lei e amamos quem não nos ama, quem nos ama nós não amamos, embora, como já dissera o poeta, "viver é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida'. Pensando surpreender o amor, ter domínio sobre ele, de repente é apenas um pássaro que voou, um sonho perdido, um vazio no chão onde antes havia escadas. E se vai, volta e a ciran...

Onda

"Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar quando caí." Cecília Meireles. ******* "Para quem quer se soltar... invento o mar, invento em mim o sonhador". Milton Nascimento & Ronaldo Bastos

Vino

Minha alimentação é pão e palavras. O vinagre aquece o pão, o sal amarga as palavras. Quem me dera para produzir palavras a embriaguez do vinho o mel das flores. Esqueceria os sentimentos viveria somente pelo hoje.

Certas coisas

Há muito tempo 365 dias passados fechou a porta de sábado e saiu não antes de dizer te amo. O tempo se refez. Há tempos que marcaram 366 dias passados lágrimas pelo fim em domingo medo, insegurança, contrapontos. O tempo se derretia pelas bordas da vida. Há muito tempo 369 dias passados abriu a porta e entrou quarta-feira amor transmudada palavra. O tempo se desfez. Desde então passageiro de qualquer trem descarrilado meio sem rumo trilhos que precisam ir a qualquer estação não antes de falar desilusão. O tempo se congela e aquece na palma da minha mão.

Música

Concentramo-nos tanto no trabalho que muitas vezes não sabemos apreciar o belo. O som da música que ameniza o cansaço, que compartilha. Um ouvindo, outro cantarolando baixinho, comentando uma época, lembrando um amor, uma vida. Gostos são diferentes e é na diferença que crescemos. Nem sempre é fácil, mas hoje e sempre necessário se quisermos nos livrar da solidão. Na guerra travada todos os dias qualquer coisa irrita, esmaga o peso sobre os ombros, arrebentando todas as cordas em que se transformaram os nervos. A custo seguramos o grito, a mão, o pontapé - se não físico, o verbal se dispara e alcança o alvo. Aberto ao ir, a volta nos alcança ainda em meio ao grito. Esquecemos o essencial. Esquecemo-nos de nós mesmos e da compreensão para alcançar o outro tão igual a nós e ao mesmo tempo tão diferente. Esquecemos que o arco-íris é belo pelos seus matizes de cores, não pela igualdade. Desrespeitamos o outro, o gosto, a vida se tornando amarga por se fazer sozinha. Nessa ausência, castiga...

Cinzas

A vida é uma quarta-feira de cinzas. Primeiro de abril sem dezenove agosto sem setembro sem quatro de julho ainda menos de outubro. Dezembro natal não se fez ano novo pra que ano? A vida se faz por um fio paralelepípedo nas avenidas árvores sem ramos, taquicardia léxico sem sentido, mergulho na escuridão. Livros, livros, saxofone salas escuras de tela plana folhas de papéis, carimbos marcas de solidão. Sem ter para onde fugir a rota se traça por dentro sem medo do encontro fatal ruas densas, curvas sem retorno inverso afastamento.

Citação

"Somos todos viajantes perdidos com passagens adquiridas a um preço ignorado, mas certamente muito além de nossas posses. Este estranho itinerário de cenas - enigmáticas, inusitadas, irreais - nos enche de insegurança sobre o que devemos sentir. Não há viagem após a morte mais repleta de mistérios do que a própria vida." ******** Lantejoulas trêmulas do destino flutuam etéreas à minha volta - mas logo sinto seu abraço rígido como aço." (Citado por Dean Koontz em "Os Caminhos Escuros do Coração")

Sólo tengo

Yo sólo queria tener um poco más de mí olvidar la razón de mi dolor tener una esperanza más para los pies. Sólo quería estar una fe para vivir el más por lo menos una lágrima a caer encogió el corazón a olvidar. Yo quería aprender a vivir todas las noches sin mí y cada día sin llorar. Sólo tengo un alma para sobrevivir las manos extendidas para llegar.