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Mostrando postagens de 2006

CriAnÇa teM caDa Uma

Ontem em almoço com familiares, minha mãe relembrava a vez que o neto prendera a cabeça entre um cano de orelhão e a parede. Nem ele nem ela lembraram que idade ele tinha, mas ela lembrava como torceu e torceu a cabeça dele para sair daquele sufoco – literal pode se dizer! – e que já estava pensando em chamar o bombeiro para serrar o cano. Nas festas natalinas do ano passado, a filha de uma amiga de uma amiga, sentou-se no colo de Papai Noel lá no Midway e pediu uma bicicleta. O Papai Noel, sem saber das intenções da mãe – principalmente suas condições financeiras – disse para a garota de três anos que talvez ela não ganhasse o que estava pedindo, porque ele tinha muitos pedidos para atender, mas que ela não ficasse triste. Ela ganharia algo, mas ele não tinha certeza que seria uma bicicleta. A garota ouviu, não disse nada, levantou-se e caminhou em direção à mãe. A uma boa distância do Papai Noel virou-se e mandou: - Papai Noel, se você não mandar minha bicicleta, você tá fudido!!! ...

Na rede de um pescador

O primeiro livro que comprei foi As Sandálias do Pescador do Morris West. Não lembro em que ano foi; acho que por volta dos meus 13 anos (o ano continuo não lembrando!). O livro foi comprado em um sebo, não como vemos hoje, quase uma livraria, mas no meio da calçada, livros dentro de caixotes de madeira, espalhados nos batentes da entrada do cinema São José, rua transversal a que eu morava. O livro me fascinou duplamente: eu estava usando dinheiro para isso, até então era só livro de biblioteca de escola ou de colegas, e pela primeira vez eu lia algo que desfazia a idéia de santidade que envolvia a Igreja Católica, mesmo que dela não fizesse parte. Ainda pelo fato de que à época habitante de país comunista não era considerado flor que se cheire, muito menos que pudesse chegar a ser Papa. Como podia um comunista – morava lá, tinha que ser! – que renegava Deus ser Papa? (Depois Karol Jósef Wojtyla mostrou que a vida imita a arte!) Aquela idade, inocência para quase tudo (naquele tempo n...

No caminho com JOÃO CABRAL

POEMA "Meus olhos têm telescópios espiando a rua, espiando minha alma longe de mim mil metros." ********** POEMA DESERTO "Todas as trasnformações todos os imprevistos se davam sem o meu consentimento." *********** A VIAGEM "Quem é alguém que caminha toda a manhã com tristeza dentro de minhas roupas, perdido além do sonho e da rua?"

CRIsto e CRIanças amarELAS

Trechos do livro O Assassinato de Cristo escrito por Wilhelm Reich e publicado em 1953 (p. 9, 2ª ed. brasileira, julho/1983, Martins fontes): *** "Numa reunião de educadores orgonômicos que houve há alguns anos, foi dito que a educação continuará sendo um problema por alguns séculos ainda. É mais do que provável que as próximas gerações das Crianças do Futuro não serão capazes de resistir aos múltiplos impactos da peste emocional. Elas certamente teriam que se submeter; não sabemos exatamente como. Mas há esperança de que pouco a pouco uma consciência geral da Vida se desenvolva nesse novo tipo de crianças, difundindo-se por toda a comunidade humana. O educador que considera a educação como um negócio rendoso, nunca se interessaria pela educação se acreditasse nisso. Devemos ter cuidado com essa espécie de educadores." O que estaria dizendo hoje Mr. Reich, passados 53 anos de sua obra, quando ele já apregoava que "o grande problema da Vida e da origem da Vida é um probl...

O sal do meu rosto

"E eu que não quero mais ser um vencedor levo a vida devagar só para não faltar amor..." ###### "É de mágica Que eu dobro a vida em flor Assim! E ao senhor de iludir Manda avisar, que esse daqui Tem muito mais amor pra dar". (Vencedor; É de lágrima - Los Hermanos) ******************** Não sei se ainda há amor para dar aos que vez por outra cravam um punhal ferozmente na minha jugular, esperando-me sagrar até morrer qual carneiro numa imolação sagrada; Não sei se ainda há paciência para caminhar nesse caminho há tempos escolhido, sabendo-me das dificuldades, do dinheiro minguado, mas com um ideal a cumprir na perseguição de um sonho utópico; Não sei o quanto ainda há de mim naquilo que hoje realizo depois de tantos furtivos roubos, das ameaças sutis às minhas crenças, àquilo que realizo arduamente todos os dias. Ainda choro e vou chorar ainda, mesmo passada a dor inicial. Ficará a lembrança da omissão dos que se calaram, ficará o ruído insensato dos que apoiaram ...

CONjugaSÓS

Eu te conheço tu me conheces nós nos desconhecemos. Eu te amo tu me amas nós nos sufocamos. Eu te confio tu me confias nós nos duvidamos. Eu te prometo tu me prometes nós nos esquecemos. (Imagem: Eros e Psiquê - Edward Munch. Galeria Mun. de Arte - Oslo)

Where's Monaliza's smile?

Mesmo antes, muito antes, do boom Dan Brown e seu código Da Vinci – dos quais ninguém agüenta mais falar/ouvir – já havia uma polêmica sobre quem seria a mulher de tão enigmático sorriso pincelada pelo Da Vinci, chegando mesmo a se especular que não foi o Leonardo que pintou o famoso quadro (quem sabe foi o Donatello, ou o Rafael, ou o Michelangelo, as tartarugas ninjas!). Depois de todas essas letrinhas aí acima, vocês podem pensar que me atreverei a escrever sobre pintura renascentista. Não. Quero me referir a outra Mona Lisa. Uma mocinha de 20 anos, cuja grafia do nome era Monaliza. Monaliza era igual a uma danação de jovens que todos os dias sai para trabalhar, estuda, gosta de baladas, passeia pela internet e curte o sol maluco de Ponta Negra. Também como um bocado de moças, ela tinha um namorado. E aí começava o problema de Monaliza. O namorado tinha aquilo que hoje os psiquiatras e psicanalistas denominam de "síndrome de Otelo", referência ao personagem Otelo da tragéd...

EnTrELiNHaS

"Por mim, e por vós, e por mais aquilo que está onde as outras coisas nunca estão, deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: quero solidão." (Cecília Miereles) Por este conto de letras tanto eu te faço em ponto a findar-se dentro de mim a escoar-me pelas mãos. E reboam na natureza tanto/quanto a mim intrínseca os trovões da dor de tanta linha que fazem círculos em mim e não me deixam ser um ponto de amplo bordado em ti.

Espirro cafeínado

O inusitado acontece a todos. Se houvesse uma câmera na hora, precisamente sexta-feira, na praça de alimentação do Midway, agora eu estaria pateticamente conhecida e uma amiga estaria com novo modelo de blusa para todo o Brasil (segundo ela mesma, num exemplo de bom humor, uma blusa com bordados de Caicó!). Avessas ao carnatal, éramos quatro em uma mesa na um pouco menos barulhenta praça de alimentação do shopping, em final de expediente, devido que a cidade inteira – ou quase – mobilizava-se em torno de o Chiclete com Banana, Trios & Cia – que Deus nos proteja de tamanha sandice! Depois de alguns Sushi e Sashimi, duas bebiam cerveja, uma comia torta de limão, e eu resolvi tomar um cappuccino. Conversa vai e vem, a conversar girou para as excentricidades de uma de nós que não viaja porque tem medo, podendo até desmaiar durante o percurso. A sugestão foi que não haveria problema em desmaiar, pois quando chegasse ao destino, já estaria lá mesmo, ou então, provocássemos um desmaio e l...

Memorium

Em uma matéria lida há dias soube de um americano de 54 anos, cuja capacidade de memorização é absurdamente fantástica, o que faz com que ele tenha 9 mil obras "armazenadas" na cabeça. Vale dizer que o desenvolvimento afetivo desse homem é limitado, portador que é da "síndrome de savant", tipo de autismo em alto grau. A maioria das coisas é memorizada, mas não compreendida. Fiquei pensando se uma capacidade dessa é boa ou má. Será bom lembrar de tantos fatos? Carregar consigo todas as lembranças, mesmo que aparentemente seja cultura inútil, fatos desprovidos de emoções? Em uma outra ocasião li a opinião de um médico sobre a doença de Alzheimer. Para ele a doença era uma bênção, pois na velhice é necessário apagar lembranças desagradáveis, as tantas dores que vivenciamos e lembrar apenas aquilo que nos foi grato, agradável. Não sei. Há lembranças em mim que faço questão de manter comigo e espero que velhice nenhuma consiga apagá-las, mesmo que elas me causem dor, sau...

RISCO

Quando houver futuro se eu for uma lembrança pega-me em tuas mãos - da maneira mais querida rasga-me em pedacinhos e solta-me ao vento e serei uma saudade apagada no tempo. Mas, se em teu coração soprar algum eco -da maneira mais antiga refaz o teu viver tal fênix renascida não te angusties nem chores - houve sempre o risco de nos perdermos