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Mostrando postagens de março, 2007

Hoc Opus, Hic Labor Est

Mesmo cansada, quando cheguei à noite, liguei o televisor na tentativa de ver alguma notícia nos últimos telejornais. E ouvi o apresentador anunciar que em documento intitulado Sacramentum Caritatis (O Sacramento do Amor) o Papa Bento XVI sugere aos padres que voltem a rezar as missas em latim; que o canto gregoriano volte a ser entoado nas igrejas; que o casamento de divorciados é uma praga e que políticos católicos fiquem atentos para a não aprovação de leis liberais que atentem contra a família e a vida (traduzindo: não aprovem leis a favor de casamentos homossexuais, a eutanásia, o aborto); que os padres evitem a confissão comunitária, que o momento de confraternização na hora da missa, aquele que todo mundo se abraça e deseja paz, não seja longo provocando distração e que os padres cuidem esteticamente das igrejas, isto é, limpem direitinho os altares e os santos. Amém. Religião é uma coisa complicada e quem tem bom senso não a discute. O que seguirei aqui. Depois que inventaram ...

VIda LOUca Vida

A gravura acima, colhida no álbum do papai Google, anônima, é atribuída ao surrealismo que surgiu nas primeiras décadas do século XX e que foi por "excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente". Assim, apele ao seu inconsciente e tente descobrir o que você vê. Será que você vê, por exemplo, nosso ouvido interno, o chamado labirinto, aquele tal cuja inflamação provoca tonturas? Talvez você veja um focinho de porco, um olho deformado, um cogumelo gigante cheio de tentáculos. Você pode não vê nada disso ou ainda vê o que ninguém mais verá. Preste atenção mais uma vez. Force sua vista e tente ver o que eu mencionei. Você tem olhado para a vida ultimamente? Não a sua. A vida de todos nós, essa que está nos circundando, enlouquecida numa cantiga ao nosso redor? Se tem, há de lembrar-se o quanto essa circunavegação diária tem nos feito aportar em lugares sombrios, quanto das roupas que as pessoas estão usando na roda estão encardidas, imp...

Tempo feminino

Espera. Debruçada na janela, protegida pela tênue sombra provocada pelos raios de sol que lá fora brilha, espera. Não sabe bem o quê, sabe apenas que algo acontecerá e não o teme por achá-lo melhor do que esta pasmaceira que a tudo contamina, a tudo querendo matar. Há tempo a vida se resumiu em acordar, cuidar da casa, dormir. Dias e noites iguais que elevam a angústia a um nível quase insuportável, uma vontade crescente de desaparecer, sumir no meio do vento que nesta época do ano assobia por entre as folhas assombrando até os pensamentos mais íntimos. Espera. Aos quinze, no meio de livros que povoavam os sonhos, esperava um príncipe honesto e trabalhador que a levasse daquela casa de caibros à mostra, paredes vertendo umidade durante as chuvas, no verão uma estufa deixando a pele pegajosa. Uma casa de silêncios, de vontades cobertas de panos tais como os santos escondidos na Quaresma, de verdades sussurradas entre os muros das vizinhas. Viera um príncipe que logo se revelou dragão q...