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Mostrando postagens de abril, 2007

Por falta de aSSunTo

Quem se atreve a ler o que aqui escrevo muitas vezes se admira e me diz que tenho algum dom. Alguns acham que a inspiração mora ao lado e basta um estalar de dedos e SHAZAM!!!!!!. Quem dera! Essas letras contêm muito mais expiração do que inspiração. Desde o início da semana que fiquei pensando sobre o que escreveria. Qual estória contaria hoje. Na cabeça comecei várias e no meio dos ônibus atravessando a cidade elas se perderam, misturaram-se aos diversos papéis que pelas minhas mãos passaram - até mesmo a leitura de um livro me atrasou, ainda que tenha ficado tentada a escrever sobre ele! Uma das estórias poderia ter sido sobre alguns personagens de revistas em quadrinhos, pois eu e uma amiga conversávamos sobre a turma do Zé Colméia e ela me contava que tinha pena do Catatau, pois ele sempre pagava todos os micos, sendo apontando como responsável pelas espertezas do chefe em sua ânsia de levar vantagem em tudo. E olha que o Zé Colméia não foi uma criação baseada no brasileiro, mesmo...

Vida de Algodão

Entardece. Pelas frestas das pequenas ripas que formam a barricada do alpendre, o sol escorre sua luz, escondendo-se por entre nuvens. Sentada no chão batido, as costas cansadas apoiadas à parede, a mulher olha o espetáculo e não lhe percebe a magia. Seus dedos maquinalmente tecem os fios de algodão que desde a manhã transpassam por seus dedos. É o seu dia-a-dia desde que a colheita se fizera. O sol não lhe causa admiração, mas uma dor ofuscante nos olhos, agora já cansados de tudo quanto já vira e vivera. Olhar ao redor sem ver tem sido o seu hábito nesses últimos meses. Como máquina acorda, prepara e toma um ralo café, colhe o algodão, percorre o caminho com passos duros e firmes – como as pedras que pisa – a comida é preparada e engolida pelo costume de comer, insípido prato, insípida vida. Tece. O algodão se desmembra nas mãos da mulher, tomando outra forma, moldado com maestria adquirida após tantos anos, tantos fios. Vez em quando os olhos se erguem e vagam pelo terreiro, vendo o...

Ave, Clarice!

"O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço (...) Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações." CLARICE LISPECTOR. Abaixo, quadro denominado LUTA SANGRENTA PELA PAZ, pintado pela escritora em 1975. Fui apresentada ao mundo de Clarice Lispector por uma professora ainda quando estava na faculdade. E nunca me esqueci do conto "Tentação" , cujo primeiro parágrafo diz: "Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva". O conto narra a solidão de uma garota sentada desolada num degrau e v...

Filosofia a granel

   Essa semana conversei com um colega sobre o livro "A Caverna" , escrito por José Saramago , pois nele há um lugar chamado de Centro, onde as pessoas vivem isoladas do mundo, tendo ao seu dispor alguns entretenimentos, sendo, no entanto, monitoradas por câmeras. Também comentamos o enredo do filme A Vila , dirigido por Night Shyamalan em 2004 e que mostra uma comunidade totalmente isolada do resto da civilização, vivendo no ano de 1897. Em determinado ponto, os mais jovens questionam por que não podem atravessar o bosque e ver o que tem além. Em meio a ataques de estranhas criaturas (ao final, apenas um êngodo ameaçador para que ninguém se atreva a sair), cabe a uma jovem cega a tarefa de ir em busca de ajuda naquilo que seria uma cidade além dos limites da floresta. E eis que a garota encontra uma rodovia no Estado da Pensilvânia totalmente urbanizada, civilizada, numa demonstração que o povo da vila parara no tempo com medo do progresso, do conhecimento. E, cega, nada po...