
Passara o medo de ir à escola, sentindo-se uma a mais em meio àqueles rostos às vezes amigos, às vezes ameaçadores na borracha e no lápis que tomam de vez, no beliscão escondido da professora aplicado selvagemente no braço.
Chegara o tempo de descobrir nas pontas dos dedos a sensação de um prazer nunca falado, nem mesmo murmurado entre colegas, apenas adivinhado no barulho à noite quando acordada pensava que algum monstro assaltara os sonhos da mãe, pois a cama fazia aquele mesmo som quando nela pulava nas brincadeiras de pular e correr pela casa.
Chegara o cheiro de um colega na escola, menino pouco maior que ela mesma, de cabelos pretos bem cortados. E aquele arrepio a que não sabia explicar se de frio ou de medo. Não podia ser frio, pois não havia chuva; medo, tampouco porque fazia de tudo para roçar seu braço no de Paulinho – o primeiro de uma série que na adolescente vida quase se perdera.
Chegara o tempo de em uma igual experimentar o calafrio de um leve roçar, um olho que vagueia à procura sempre daquele proibido ser. Não sabia o nome, nem de qual sensação queria escapar. Sabia apenas que havia no escuro da alma um clarão quando a via passar, aspirando um cheiro de perigo quando lábios tímidos se laçavam.

Cresce. E a cada tempo de todos os jogos, simplesmente corre pelo campo. Pára em jogadas estratégias, dribla os pés que se jogam a sua frente na tentativa de impedi-la, cabecea, ambidestra, não escolhe para onde a bola jogar, desde que continue em movimento, dando-se vida, sangue a pulsar. No início da idade adulta, dita por todos como a do juízo, começa a ver os passos, a sentir que a chuva não é tão temerosa, a falar menos, mesmo que ainda muito bravo, gritandos seus direitos e liberdades, esperando, aprendendo a esperar, entregando-se ao amor que acredita ser eterno.
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