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Deitado no chão contempla as formigas nos espaços do rodapé quebrado. Uma formiga vai, outra vem, batem-se e prosseguem. Espicha os olhos, mas não consegue ver o que cada uma transporta. Coloca a mão dos seus quatro anos espalmada no chão na tentativa de impedir o caminho, mas as formigas lhe rodeiam e passam. Pega no bolso do short os óculos tirados da avó enquanto ela dormia, põe sobre o nariz, mas não vê maior as formigas. De repente, vê um carro preto numa estrada poeirenta passando ao lado de vacas. Assustado, levanta-se de um pulo, livrando-se do carro e das vacas. Nunca vira aquele carro, muito menos vacas passeando nas ruas. No pulo, os óculos caíram-lhe do rosto. Olha em volta desconfiado, mas continua sozinho ali, os barulhos presos na cozinha. Pega os óculos e, de olhos fechados, temeroso da visão desabalada do carro, põe aquelas lentes que dão ao seu infantil rosto um aspecto palhaço. Deitado como antes, abre os olhos e vê o carro continuando na mesma estrada, as vacas pastando. A avó sentada no banco ao lado do motorista exibe o cabelo preto e sorri ao homem que dirige. Na tentativa de enxergar melhor, encosta a cabeça na parede, sentindo-a como chiclete fazendo bola. Assustado, levanta-se de um pulo, livrando-se da poeira e das vacas, gritando aos avós que parem o carro e levem-no.
Comentários
Bela escrita.
Abraço.