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Mostrando postagens de 2020

DiFERente

A TV repete a novela Eita, Mundo bom! Nela, o jargão é que tudo que acontece de ruim é para melhorar. Será ou apenas uma lição à la Pollyana? Não sei. Poucas certezas temos na vida. As certezas não são mais duradouras, têm o tempo de um click.  Na verdade, nunca foram, mas insistimos que eram, que podíamos planejar a vida até uns 80 anos. Depois disso, era lucro. Ainda é lucro. A diferença é que as mudanças hoje são vertiginosas. Não só nos aparatos tecnológicos, nas Ciências. Em nossa vida. Se pensamos planejar a longo prazo, corremos o risco de estatelar no chão diante de um imprevisto que muda tudo. Se não planejamos, também cairemos ao chão porque a grande surpresa, o completamente inesperado tem a capacidade de nos derrubar e nos pôr na dificuldade de se erguer. Entre pensar, planejar ou nada, a vida não pede licença. Apenas segue. E com ela, vamos. Não há outra alternativa a não ser ir. Quer dizer, há outra forma. Interrompê-la deliberadamente. Aí, é...

Afinal, para qUÊ

Falar de notícia para quê? As mortes se agigantam, sangram nas telas absorvem papéis. Crianças são abandonadas nas ruas,  em elevador. A insolência é tão grande, a crença  na impunidade é tão intensa que não se importam mais que o mal seja às claras, aberto, escancarado debochado na cara dos justos. Não se tem paciência de segurar na mão do menino e dizer fique quieto, sua mãe já volta. Para o passeio do cachorro a patroa deixa tempo sobe e não desce. Entre a bolsa e a vida, a bolsa vazia de nada serve mas no tempo de depois o rio correria como sempre trocar de bolsa, melhorar. Sem vida, sem bolsa, perdido tudo. Viver se torna mais duro e os poderes que se pensam imunes não moram debaixo de árvores, canteiros pelas ruas não veem estrelas em barracão de zinco - coisa de poética! Não há poesia na fome, na dor. Afinal, pensam eles, para que tanto alarde é só  um negro a mais que o policial tira da rua um velho a mais q...

Pra DedÉU

Faz tempo que deixei de acreditar em inferno nos termos religiosos. Da Divina Comédia não sei o suficiente para dizer que acredito no inferno dantesco. Possivelmente. Mas, que na vida tem um bocado de aperreio, ah, isso tem! Os que nós provocamos. Os que os outros nos provocam. Destes, para mim o mais recorrente é o de pessoas quererem me enterrar viva. Não sei o porquê. Quer dizer, suponho. Apenas. Fico quieta, não me interesso pela vida alheia. Há muito deixei de dar conselhos, cada um viva como quiser. Tudo tem um preço, mas as pessoas insistem em não acreditar nisso. Depois, reclamam daquele erro cometido, daquela omissão ou daquela agressão, nem sempre física, muitas vezes psicológica. Tenho medo, não. Dificilmente, fico calada nas horas de opinar, embora já me dê o direito de não opinar por aquilo que não vale a pena. Meu trabalho, por exemplo. Vale. E falo, como se diz no interior, para dedéu. (Quer dizer, muito). Educação é função difícil de se exercer. Todos que...

CansAÇO

Ontem não choveu. O tempo se preparou, murchou, preguiçoso, não deixou água correr. O tempo. Ontem apareceram notícias velhas, repetidas, a lei, fazendo-se de morta, morreu. O tempo. Ontem os beijos um tanto quanto salgados, distâncias que aumentam sem ruído algum. O tempo. Devemos parar de falar no tempo? Responsabilizá-lo pelo futuro, por um futuro melhor? A chuva. Se o tempo nunca para, invenção nossa, por que esperamos mudanças? A lei. Quando provocamos dor, dizemos o tempo cura. Cura? A distância. Tenho a alma povoada de cansaço, de impaciências. Não me acostumo com a cegueira alheia, pois a mim basta a minha voluntária. Minha lucidez me apavora, inquieta e me tira o sono. Se pudesse, sairia e daria um longo passeio nas cercanias para ver como se sentem os irresponsáveis, os idólatras, os falsos profetas. Voltaria a mim como eu mesma? O tempo. Roubariam de mim o que me faz diferente? A lei. Seria transformada nas crenças que tenho? Amor.

SeI LÁ

Hoje não tenho tempo. Não tenho palavras: mudo contemplo a vida que se arrasta pela varanda mudo e não saio do lugar impossibilidade de ruas, de trabalho. Quando encontro as pessoas não há abraços: mudo gesto à parte, de longe com os olhos. Hoje não tenho tempo. Não tenho palavras: canto acompanho o som e assobio Céu de Santo Amaro, Venturini como letra na Cantata de Bach. Quando o ouvido vai por dentro ouço cânticos e lágrimas saudades. Hoje não tenho tempo. Não tenho palavras: vivo em apenas um lugar onde tenho um par na divisão de gestos, alentos.

A nAU dos InsenSatOS

O discurso recorrente é que pós-pandemia a humanidade terá aprendido uma grande lição, que seremos muito mais solidários, humanos, dispostos a exercitar mais a empatia e a solidariedade. O que as pandemias já ensinaram são medidas de saúde que devem ser tomadas tão logo haja indícios de um novo vírus, avanço nas ciências para criar formas de combate, invenção de vacinas e descobertas para outras doenças, como consequências das pesquisas originais. Em relação ao comportamento social e moral das pessoas, pouco provável que haja uma alteração tão marcante. É quase unânime a afirmação de pesquisadores comportamentais e historiadores. Depois da pandemia passada, as pessoas tendem a andar como sempre andaram: não se cuida do meio ambiente, o consumismo impera, como também a hipocrisia, os arrogantes continuam arrogantes, pisando quem acha que podem, “farinha pouca, meu pirão primeiro”! A historiadora Joana Monteleone, no site Brasil de Fato, registra: “Uma das coi...

LamenTÁveL

A morte de Flávio Miglliaccio não é só lamentável porque se foi um grande ator. É extremamente cruel porque mostra a condição dos que pensam, refletem, não se omitem e se preocupam com justiça social - ou mais precisamente, a falta dela! Dos que choram pelas injustiças cometidas diuturnamente neste país, onde o presidente não tem a mínima compostura, deferência pelo próprio cargo que ocupa, eleito por voto direto, consequência de uma forma de Governo democrático, que, nas palavras dele, ele respeita, ao mesmo tempo que manda calar a boca quem com ele não concorda, e diz prepotente e autoritariamente com orgulho evidente: eu sou o presidente, p...! Flávio Miglliaccio foi um exemplo de uma geração inteira de artistas comprometidos com a cultura, que não se omitiram diante dos vilipêndios governamentais das épocas, que foram presos, como tão bem disse Lima Duarte em vídeo. Não sabemos o que virá. Já passamos da fase de achar que não vai dar em nada, que é só  palhaçada.

SaUdaDE, né, minha filha?

Então, agora não podemos bater pernas.