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Mostrando postagens de junho, 2024

SuSSuRRo

  A   mão corta a escuridão do quarto no afastar da cortina. A luz do poste lança sombras na parede. Sobre a cama uma indumentária de cigana a contempla. Não sabe como chegara ali.  Sonho.  Como sempre o relógio a acorda às 7 horas. E como de costume, pula da cama, termina de acordar sob o chuveiro, veste-se apressada, come alguma coisa, toma duas xícaras de café para acordar e sai. Não mais que 40 minutos se passara. Faz a maquiagem entre uma parada e outro nos sinais. Sons de buzina, freadas colaboram para o seu despertar. Depois de 40 minutos entre carros, 20 minutos dando voltas no quarteirão em busca de uma vaga, estaciona, desce do carro, bate a porta e caminha em direção ao prédio. Ao atravessar a rua, percebe que está sem bolsa. Assustada, pensa que foi assaltada, mas se dá conta que mal saíra do carro. Sem bolsa, o pensamento pula para a chave. Onde deixara? Dentro da bolsa, dentro do carro. Retorna. Porta destravada, pois a chave ficara na bolsa. No banco...

BaLÕES de GueRRa

Inusitada. No mínimo. A rivalidade entre as duas Coreias chegou ao ponto de parecer hilária aos olhos dos que não entendem as diferenças entre os dois países. Cada lado manda pelos ares, cruzando as fronteiras, balões com os mais estranhos objetos, inclusive esterco. E fazem isso há anos! Os balões do Sul para o Norte exaltam aspectos relevantes aos coreanos, que, gradativamente, foram exportando uma máquina cultural pelo mundo, como os doramas e os k-pop. Mostrada nos doramas como uma cidade ampla, limpa, de povo educado, sem os arroubos tão comuns aos ocidentais, a Coreia do Sul é sonho de consumo de muitos turistas, ansiosos para ver se de perto aquilo que é mostrado na TV é verdade. Embora o cinema também mostre a dificuldade do povo em suas humildes residências e as árduas horas de trabalho, muitas vezes de forma insalubre, o que mais chama atenção é a civilidade entre o povo, exemplificada em mesuras, cabelos e pele impecáveis. Os balões ainda servem para os combatentes do Norte,...

Vai de RetRO

Tem gente demais atrapalhando a vida de outros. Na hora de fazer o trabalho, não faz. Não sugere, não oferece críticas para melhorar.Trabalho realizado, concluído, fala. Reclama disso, desse, daquele e daquilo. O mar está todos os dias no mesmo lugar. As ondas vão e vêm. As fases da lua influem no movimento das ondas. Mas, as ondas não deixam de ir e vir. Seguem. Esperam que o mar continue favorecendo o movimento. Esperam que as areias se acomodem e se agitem no fundo do mar. Ou na praia. Esperar pelo outro é bobagem. O outro é o outro, sempre. Não se muda o mau caráter. O normal para ele é o de agitar a praia onde o outro se deita e se banha. Para ele é melhor enlamear a água, jogar areia e esperar a onda levar. De preferência para longe, para nunca mais. Não pensa que ele também é mar, é onda, é areia. Não pensa que um dia a maré não estará para tubarão, que ele pensa ser. Não se vê peixe em um grande cardume. O movimento do mar é inexorável. Nada para. Pode chover, pode fazer sol. M...

AcqUa HomO

  Caiu água demais na terra. Caiu água demais nos rios. Aquilo assombrava o pai que repetia, fim dos tempos, fim dos tempos. A mãe tentava colocar as coisas lá para cima, mas não adiantava. A água subia depressa demais. O jeito era sair. Fazer uma trouxa com o que pudesse e sair na água dos joelhos para cima, e da água da cabeça para baixo fria e constante. Na escuridão dos postes, gente inumana roubava, atacava, dividindo espaço com entulhos, caixas que boiavam, carros parados na lama. Pessoas procuravam parentes, aderentes como os animais, agregados como os amigos e choravam ao saber da enxurrada que levara fulano, derrubara a casa de sicrano. No meio de tanta água não encontravam água para beber, banco para sentar, cama para dormir. Caminhões com soldados chegavam a toda hora. Era uma guerra diferente. Gente passava aos montes pelas ruas transformadas em rios, canoas e remos em vez de carros e buzinas. As crianças choravam em busca de leite, brinquedos levados pelas águas, esc...