Pular para o conteúdo principal

BaLÕES de GueRRa

Inusitada. No mínimo.

A rivalidade entre as duas Coreias chegou ao ponto de parecer hilária aos olhos dos que não entendem as diferenças entre os dois países. Cada lado manda pelos ares, cruzando as fronteiras, balões com os mais estranhos objetos, inclusive esterco. E fazem isso há anos!

Os balões do Sul para o Norte exaltam aspectos relevantes aos coreanos, que, gradativamente, foram exportando uma máquina cultural pelo mundo, como os doramas e os k-pop. Mostrada nos doramas como uma cidade ampla, limpa, de povo educado, sem os arroubos tão comuns aos ocidentais, a Coreia do Sul é sonho de consumo de muitos turistas, ansiosos para ver se de perto aquilo que é mostrado na TV é verdade. Embora o cinema também mostre a dificuldade do povo em suas humildes residências e as árduas horas de trabalho, muitas vezes de forma insalubre, o que mais chama atenção é a civilidade entre o povo, exemplificada em mesuras, cabelos e pele impecáveis.

Os balões ainda servem para os combatentes do Norte, que vivem no Sul, mandarem panfletos contra o governo nortista, combatendo o clima ditatorial que impera no país, tolhendo a liberdade de seus cidadãos.

Por sua vez, a Coreia do Norte lança balões de forma a emporcalhar as ruas e criticar de forma severa o modo de vida da Coreia do Sul. Sobrevoam as trincheiras e caem no Sul excrementos, baterias usadas, lixo, como a dizer que não querem aquilo que eles outros produzem e consomem, pois não passa de merda, literalmente.

Segundo a Freedom House, há no mundo 49 países sob ditadura, listagem considerando critérios como o cerceamento de liberdades civis e o desrespeito aos direitos políticos. Na conta também se contabiliza países "mesclados", os ditos democráticos por ter eleições, mas com marcados fatos ditatoriais.

Enquanto balões sobrevoam as trincheiras em uma guerra psicológica entre os dois países, que, aparentemente, não causam danos mortais, está tudo bem. Sim, aparentemente, porque a tensão existe, a situação causa ansiedade em muitos cidadãos dos dois lados. 

Do lado de cá, o do Sul, produzem-se materiais para envio pelos ares e se convive com o medo de ataque real da Coreia do Norte que tem armas nucleares. A Coreia do Sul, no entanto, não tem, pois é signatária do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Embora, possa deixar de sê-lo! 

Do lado de lá, o do Norte, cidadãos têm até medo de pegar os balões, vigiados que são constantemente para não sucumbirem às tentações do modo de vida no sul, tais como redes sociais como as que conhecemos, fast food. Que podem não ser bons exemplos, mas cabe a cada um escolher e não ao governo proibir.

Enquanto isso, Rússia e Ucrânia, Israel e o Hamas, grupos militares antagônicos no Sudão, na Somália, no Haiti, Mianmar, entre outros, não arrefecem os ânimos e mandam tiros de verdade. Seria bom se escolhessem mandar balões enquanto se sentassem para conversar.

  Crédito da imagem 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bugol

  Nos idos dos anos 60, os Estados Unidos implementaram um programa de assistência aos países do terceiro mundo denominado de Aliança para o Progresso. Através dele, a população carente recebia alimentos para suprir as necessidades nutricionais, além de recursos financeiros para o desenvolvimento do estado, como casas populares, escolas. Dessa leva, em Natal se construíram o conjunto habitacional Cidade da Esperança e o Instituto de Educação Pte Kennedy, enquanto o navio Hope, ancorado no Porto na Ribeira, distribuía leite em pó e realizava tratamentos médicos e cirurgias que até então eram inacessíveis aos potiguares. O símbolo do programa era um aperto de mãos entre indivíduos, simbolicamente estadunidenses e latinos americanos. Os americanos não estavam preocupados altruisticamente em salvar populações da fome. Estavam muito mais interessados em fazer com que o comunismo não aportasse e conquistasse terrenos por essas bandas. Era o tempo da guerra fria, o mundo polari...

Espirro cafeínado

O inusitado acontece a todos. Se houvesse uma câmera na hora, precisamente sexta-feira, na praça de alimentação do Midway, agora eu estaria pateticamente conhecida e uma amiga estaria com novo modelo de blusa para todo o Brasil (segundo ela mesma, num exemplo de bom humor, uma blusa com bordados de Caicó!). Avessas ao carnatal, éramos quatro em uma mesa na um pouco menos barulhenta praça de alimentação do shopping, em final de expediente, devido que a cidade inteira – ou quase – mobilizava-se em torno de o Chiclete com Banana, Trios & Cia – que Deus nos proteja de tamanha sandice! Depois de alguns Sushi e Sashimi, duas bebiam cerveja, uma comia torta de limão, e eu resolvi tomar um cappuccino. Conversa vai e vem, a conversar girou para as excentricidades de uma de nós que não viaja porque tem medo, podendo até desmaiar durante o percurso. A sugestão foi que não haveria problema em desmaiar, pois quando chegasse ao destino, já estaria lá mesmo, ou então, provocássemos um desmaio e l...

Fermento

Não parecia, mas era. Era bruxa. Não das antigas com vassoura e balde e corvos sobre os ombros. Das modernas, aliás bem modernas. Tinha uma namorada. É verdade que a namorada não valia nada, só queria o bem estar proporcionado pelo dinheiro, mas tava ali toda noite lhe dando uma costela quente. Nem sempre o algo mais. Tinha 60 anos, aparência de 50 depois de algumas correções estéticas, aposentada por órgão federal depois de muito trabalho e algumas bruxarias. Viagem anual à Europa, banho de civilização e guarda-roupa renovado nas calles espanholas e piazzas italianas. Quando necessário, usava alguns truques sem que os outros percebessem. Era uma fera na arte da dissimulação. A namorada era o alvo preferido. Freqüentava o mesmo bar há anos, embora de restaurante tivesse mais opções, porque era adepta da boa mesa. E era no bar onde as brigas sempre começavam. Bastava um olhar atravessado, um sorriso mais gentil para que os demônios lhe cutucassem disparando suspeitas em volta da pobre m...

Amor de feira

Não chega notícia nenhuma. Uma leve saudade a faz esperar, embora saiba que nada virá. Não pode culpar o carteiro, não se entrega carta que não é postada. A carta pedindo notícias foi inútil. Sabe que foi entregue, pois fulano recebeu resposta a que mandara. Para ela nada. O silêncio é o adeus não pronunciado. Paga pelo erro de gostar de frutas próprias de cada estação. O último encontro fora de muita conversa e nada. Não podia simplesmente sair de casa, deixar tudo assim como quem vai à esquina para logo voltar. Não cedera às exigências pedidas em nome do amor. Que amor? O amor viera de caminhão com as frutas descarregadas no pátio da feira. Melões, graviolas, abacaxis, bananas, cajás da região que há muito não vê. Do avental tirara o dinheiro pagando a entrega e justando prazo para novo descarrego. Olhara bem aquele homem e o corpo de imediato estremecera. Mal disse obrigada e voltara para trás da banca. Ele dera as costas indiferente a sua presença, interessado no dinheiro, na carga...

DOIDera

Tem alma reclusa, dessas que se basta ao sentar e ler um livro em vez de sair, tomar cerveja no calorão da cidade. Os amigos não entendem e por não compreenderem pararam os convites para as noitadas. Só de ano em ano, aniversário, confraternização de natal é que se lembram de convidar-lhe. Cinema no mais das vezes vai sozinha que a companhia não é companhia para as horas que ela pode e também porque não é mais riso pra ninguém. A turma, a outra, é bem mais animada. Há dias em que pensa que é melhor usar uma capa de invisível e passar pela vida sem ser vista. Mas, é teimosa e insiste em viver. Viver de teimosia é seu lema há um tempão, desde aquele dia longínquo quando se deu conta de que era só, mesmo que vivesse arrodeada de gente. Já tentou, bem que tentou se livrar dessa sensação, mas não conseguiu. Festa de casamento, nascimento de filho, enterros, formatura, tudo que junta gente só lhe faz aumentar a dor de se saber só. Quando adoece, adoece por inteiro, começando na cabeça...

Sem tempo

Quem passa sempre por aqui talvez estranhe o espaço entre uma postagem e outra. Ando ligada demais no trabalho, pois dez meses depois de férias, licenças, retornei. Não digo que ao batente, pois tantos anos depois não sei se trabalho pra mim é pegar no batente. De tanto subir escadas e descer ladeiras, a gente fica assim um tanto anestesiado com tudo que nos acontece na vida profissional. Em alguns momentos até parece que saímos de nós e flutuamos além da cena, contemplando-a com uma certa descrença. O danado é que quando nos fazemos de um jeito não há jeito de mudar. Trabalhar na área de educação é uma mão dupla sempre, há inevitavelmente um prazer misturado à frustração de não se conseguir todo o sonhado, há sempre o esforço para manter a chama acesa, dizendo-se a si mesmo que daqui a uns anos aquelas lições darão frutos. Há uma mania generalizada de na educação se criar uma metáfora com árvore, com frutos como se nós, educadores, fossemos os únicos responsáveis pelo futuro de crianç...