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PhOBos

Tenho medo dos que se afirmam muito religiosos. Daqueles quase santos que esperam apenas a ascensão direta aos céus, tal qual Cristo. Tenho medo dos que citam a Bíblia a torto e a direito. Nunca estão errados, os erros são creditados na conta de Deus e eles, somente eles, têm o privilégio de verem suas orações serem atendidas por que possuidores e distribuidores do bem.
Tenho medo dos que guardam Deus na prateleira. E retiram-no a pretexto de tudo, inclusive para evocar os poderes na execução de suas pequenas vinganças pessoais. Deus está a posto para servi-los, como se empregado fosse, ou se a eles tenha sido atribuído o privilégio de serem guardiões do trabalho divino, Deus fosse um gênio fugido da garrafa disposto a satisfazer muito mais que três desejos.
Tenho medo dos que retiram Deus da carteira e distribuem caridade à paga de remissão dos próprios pecados, garantindo entrada no reino celestial mediante quitação de carnê. E que fazem questão de que a mão esquerda divulgue o que a mão direita faz, que fazem mídia em meio a catástrofes distribuindo caridade em busca de plateias.
Tenho medo dos que se ajoelham em praças aos gritos e por meio de megafones chamam todos de pecadores, atribuindo isso ao amor de Deus como se para amar houvesse regras estabelecidas só para eles e por eles, ungidos que foram da magnitude do poder sagrado, separando pelo andar, pelas vestes, pela cara e pela bolsa os que devem andar na estrada e àqueles que devem permanecer na lama.
Tenho medo do que sabem de cor e salteado os mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas, e por escancaradas bocas evocam o diabo que te carregue; amar o próximo como a ti mesmo, e só conseguem ser invejosos, hipócritas, difamadores, gastando 200 para que o outro não ganhe 20; não tomar seu Santo nome em vão, e é Deus pra lá e pra cá, Graças a Deus, se Deus quiser ele me paga, Deus vai lhe castigar.
Tenho empatia pelos que creem e pregam o Deus que é compaixão e bondade; o Deus que ri de alegria na felicidade do outro e estende os braços no amparo da dor; o Deus que compreende e vive a palavra amor.


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