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Mostrando postagens de 2007

À sombra

Sempre diante de algo que não compreendo, penso em algum quadro de Salvador Dali. É o incompreensível belo, aquela coisa que se olha, olha na tentativa de entender. E não se entende. É bonito de se ver, sente-se que ali se desenha algo a ser entendido, mas a compreensão está muito além. É como algumas coisas da e na vida. Está bem ali, frente aos meus olhos, e olho, olho, dou voltas tal peru e não compreendo. Não que não compreenda totalmente; o que compreendo é ferro, é amargo. Melhor seria não compreender. Na semana uma amiga me manda um bilhete e nele me avisa que é na sombra que melhor se produz. Ela poderia estar se referindo a uma produção composta de palavras ordenadas em laudas e laudas, embora desconfie que não, pois ela é dada a umas reflexões acertivas nas entrelinhas daquilo que escreve. No primeiro caso, ela errou. Há semanas uma estória ronda a minha cabeça e não consigo terminar. A idéia original tomou tantos rumos que parei e espero um insight. Tomou tantos rumos porqu...

Rendição

Mal percebe as pessoas a sua volta. A alta umidade acentua a sensação claustrofóbica da sala abarrotada de flores. Olha em torno e vê tudo através de densa névoa. A sensação de flutuação permanece como se estivesse prestes a cair. De repente, lembra-se: há oito horas que não ingere nada sólido, um açude de dor alimentando sua vida sedenta, insalubre e insípida. Uma mosca bate-lhe no rosto e num aceno rápido tenta alcançar-lhe, afastando-a. Inútil. A mão não obedece ao seu comando, dormentemente assentada sobre o peito. Tentando movimentar o braço, de repente as lembranças lhe jogam a um passado que pensara esquecido. A sopa esfria sem fome depois que a mosca sentara na beira do prato insinuando-se sem pudor. Toma o café, escolhendo o pão mais queimado da cesta sobre a mesa. Todos à mesa calados, exceto o pai. Os irmãos não ousam nada dizer, a mãe ocupa-se em dar colheradas à irmã menor que mal alcança a altura da mesa. O pai seguindo a rotina de todos os dias espalha no ar seus gritos,...

Miserere

Sentado sobre o muro, pernas balançando, observa a rua. Com gesto de cinema, muda a aba do boné para trás. A luz do sol confere ao rosto do garoto uma alegoria de pierrô. Camiseta, da bermuda larga sobressaem as pernas compridas balançantes, nervosas sobre o muro. Espera. O muro não é tão alto. Em pé na calçada, bastou-lhe um impulso para alcançá-lo. Em casa, os irmãos assistem a desenho animado, a mãe prepara o almoço. Seus onze anos parecem pesar-lhe no olhar perdido no fim da rua. Quando pensa na vida, não sabe se pensa na vida. A maturidade não lhe chega a tanto. Olhar fixo na rua lá embaixo muda seu pensar para um prédio em construção, um carro de mão pesado de areia, barro, cimento no movimento de tábua acima, tábua abaixo. Um homem suado, boné do time vermelho e negro, camisa aberta. Antes da escola, levava a marmita ao pai. Pegava ônibus, passava por baixo da roleta e se tinha lugar, sentava-se à janela. A cidade é linda, a avenida correndo perto do mar, aquele vento no rosto....

De escritos e fogueiras

Não tenho lembrança de quando comecei a escrever, mas foi aí por volta dos 12 anos. Era um caderno tipo brochura, capa verde, pequeno e eu escrevia só de um lado da folha. Achava ruim escrever no verso. Usava caneta e achava o máximo, escrevendo com cuidado redobrado para não precisar apagar. Minha letra não era semelhante com a que tenho hoje; eu treinava arduamente para imitar a letra de uma professora da quarta série que tinha uma letra desenhada, não era feita à mão de tão perfeita. Claro que não conseguia fazer igual. Anos depois mudar a letra foi o primeiro sinal de identidade consciente: comecei a colocar letras maiúsculas no meio da palavra, coisa que faço até hoje e dando aula era a primeira lição aos meus alunos: não escrevam como eu; esta letra colocada aqui é um erro! Inútil! Nem eu deixei de escrever assim, tampouco livrei alguns de pegarem a mania da professora! Eu escrevia de tudo. Passou na cabeça, pousou no papel. Não deixava ninguém ler, embora desconfiasse que minha...

Êh, vida de gado!

Não sei a quantos anos li A Face Oculta de Eva, livro da egípcia Nawal El Saadawi , que falava sobre a situação feminina na Índia, no Egito e em alguns países africanos, principalmente à operação para que das mulheres fosse negado o prazer sexual através da mutilação do clitóris. Prática ainda hoje em voga apesar de tanto conhecimento, tecnologia e da eficiente medicina do nosso tão exaltado século XXI . O livro foi editado no início dos anos 70 e devo ter lido na mesma década. E já naqueles anos fiquei indignada por tal prática acontecer com a decantada liberação feminina em efervescência. No início desse ano li Uma Distância entre nós, da jornalista indiana Thrity Umrigar e, por razões só um pouquinho diferentes, também fiquei indignada. Neste não há mulher sendo mutilada, mas o poder do macho é alarmantemente respeitado, esteja sua conduta certa ou errada. Para completar, li hoje (lá no salão, que é onde encontramos revistas vencidas e completamente dispensáveis) na revista Elle ...

AuTRan

"En su llama mortal la luz te envuelve. Absorta, pálida doliente, así situada contra las viejas hélices del crepúsculo que en torno a ti da vueltas." ----- Pablo Neruda.

Janela adentro

A poltrona colocada frente à janela mostra uma rua sossegada, pouco movimento de carros e gente. Nela, Zuleide observa a rua sem ver. Seus olhos se apertam devido a claridade que vem de fora; ouvidos surdos ao vozerio que vem do interior da casa. Filhos e netos falam animados da festa que há um mês preparam com a ansiedade de casamento. A festa vai comemorar seu aniversário, mas pouco ligam para a aniversariante. Fará 85 anos. Não sabe se fala com Miguel ou se espera ele se aproximar. A vergonha de ser falada inibe sua vontade e fica sentada na praça, um olho lá, meio ouvido aqui. E se ele não se decidir? Esperar agoniada outro domingo, passar outra semana ouvindo em casa o pai elogiar o governo de Getúlio Vargas, fazendo comida, lavando roupa no rio bacia na cabeça? Não, tem que fazer alguma coisa. Tem 15 anos e muita pressa em viver. Não vai ficar pra titia de jeito nenhum. Se Miguel não se mexer, o jeito é ficar falada. As imagens são takes na cabeça de Zuleide. As conversas no po...

LeTRitude

Depois de vários meses, terminei a leitura do livro " A menina que roubava livros " do australiano Markus Zusac . Mesmo gostando da narrativa, não sei por que demorei tanto para concluir sua leitura, atropelando-a com outros livros. A estrutura do livro é soberba, uma aula de teoria literária para os que acreditam em Paulo Coelho como o mago das letras neste século! Não há uma temática nova. Relatos ficcionais ou não sobre a vida nos países em guerras, sejam elas as de agora ou as de antanho, proliferam aos milhares. O que o nazismo causou à população mundial, notadamente à européia, e amargamente aos judeus e às minorias, sempre será um assombro e a personalidade de Hitler já rendeu tratados tanto sócio-políticos como psicanalíticos. O fato de a narradora ser a morte não é assombroso, embora seja inusitado. E aí reside o primeiro mérito do livro: não adianta correr para as inovações tecno-científicas em busca de elixires da imortalidade, um dia ela virá e nos colocará sobre...

ViSÕes

Ao seu redor várias peças, chaves, martelo, alicates, parafusos e fios amarelo, azul, verde. Sobre a mesa, intacto o controle remoto abastecido com duas potentes pilhas ao lado da caixa vazia onde antes existia um televisor. Estendera no chão uma lona vermelha para que nada se espalhasse e se perdesse pela sala. Aproveita que está sozinho para pôr em prática uma idéia que há dias formiga em sua cabeça. Sua única diversão é a televisão, agora que pouco sai de casa. Não importa a qualidade dos programas, o que lhe interessa são as imagens. Não precisa mais do som agora que uma surdez faz ninho em seus ouvidos. Muda de posição, apoiando-se na parede, pega o capacete que pedira ao neto motoqueiro e lembrando-se da antiga profissão de técnico eletrônico monta todos os circuitos e com a pequena luz azulada solda uma peça na outra. Feito, desarma a oficina improvisada, guarda as ferramentas. Senta-se na poltrona, pega o controle remoto, ajusta o capacete na cabeça. Fecha os olhos e aciona o c...

AMARelinha

Desenhado a giz na calçada o jogo da amarelinha escancara a palavra céu. Suas pernas pulam casa por casa movimentando em harmonia o corpo no jogar/pegar a pedra. O sol se reflete no concreto secando o chão da chuva. Ao seu lado, as colegas esperam a vez de jogar. A calçada é sua. Naquela rua de pedras e buracos com canteiros de lixo, sua casa é das poucas que tem calçada, trabalho do pai pedreiro. Sobre ela reúnem-se diariamente as amigas após o horário escolar. O giz amarelo, tirado da caixa da professora, amplia a mágica no desejo de ganhar o céu. Ali, pular leva ao céu; cair, ao inferno, palavra riscada com o giz vermelho tirado da mesma caixa. Tem oito anos e o mundo é todo seu. Escuta todo dia em casa que a vida não é fácil. O significado só pode ser porque se tem pouco dinheiro, o pai nem sempre tem trabalho e a roupa que a mãe lava das donas lá do outro bairro cada dia fica menos, porque parece que as senhoras não têm mais dinheiro pra pagar e outras não confiam em lavadeiras e ...

Pé de jurema

É um homem vazio. Depois de um sono inquieto, esse é o primeiro pensamento que vem à cabeça de Paulo: sou um homem oco, perdido. Isso o faz rir, pois se lembra imediatamente do verso "eu sou aquele amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores" da música de Roberto Carlos, modelo que sonhava seguir. No meio do sorriso, uma tristeza lhe invade a alma. Uma saudade que insiste em invadir-lhe o coração turva os olhos, e deseja nessa tarde chuvosa ficar à deriva na cama, lembrando um passado, coisas que poderiam ter sido. Levanta-se, e a água fria do chuveiro alivia um pouco a sensação de peso. Sabe que tem de ir. Os colegas o esperam para uma noite de sábado. Não pode escolher uma roupa qualquer, por isso quantas tire do armário, quantas coloca sobre a cama, desprezando a combinação de cores, tentando visualizar o melhor efeito. Homem vazio. A idéia fica martelando em sua cabeça. O vazio se instalou desde aquele longínquo dia quando aos doze anos saiu de casa levando a po...

Turn, turn, turn

To everything - turn, turn, turn/ There is a season - turn, turn, turn And a time for every purpose under heaven A time to be born, a time to die/ A time to plant, a time to reap A time to kill, a time to heal/ A time to laugh, a time to weep To everything - turn, turn, turn/ There is a season - turn, turn, turn And a time for every purpose under heaven A time to build up, a time to break down/ A time to dance, a time to mourn A time to cast away stones/ A time to gather stones together To everything - turn, turn, turn/ There is a season - turn, turn, turn And a time for every purpose under heaven A time of war, a time of peace/ A time of love, a time of hate A time you may embrace/ A time to refrain from embracing To everything - turn, turn, turn/ There is a season - turn, turn, turn And a time for every purpose under heaven A time to gain, a time to lose/ A time to rend, a time to sew A time to love, a time to hate/ A time of peace, I swear it's not too late! O texto é uma música...

SoNHo de Ícaro

Na mitologia grega, o céu era a morada dos deuses, sendo inalcançável aos pobres mortais. Na ânsia de fugir do labirinto na Ilha de Creta, Dédalo cola penas dos pássaros nas asas que construiu e instrui seu filho Ícaro a não subir muito, pois o sol derreteria a cera, tampouco ficar muito junto ao mar, a umidade faria as asas pesarem demais. Empolgado pelo prazer de voar, Ícaro não ouve o pai e cai, morrendo. Manifestava-se ali o desejo do homem de ser sempre mais, ir além dos seus próprios limites. Por desobediência, Ícaro estatela-se no chão. Por desobediência, Adão e Eva são expulsos do Paraíso, pois não lhes bastara aquele conhecimento dado por Deus e ao querer mais provaram da árvore do conhecimento e se deram mal (nunca entendi porque uma maça, fruta insípida - linda, é verdade, mas sem gosto - poderia ter sido uma deliciosa jaca ou uma manga!). Assim, da mitologia à crença cristã, caminha a humanidade sempre à procura de algo mais, seguindo na superação dos seus limites. Voar no...

Palavras X Atitudes

"O humorismo alivia-nos das vicissitudes da vida, ativando o nosso senso de proporção e revelando-nos que a seriedade exagerada tende ao absurdo." A frase é atribuída ao grande Charles Chaplin, informação que encontro no livrinho O Pensamento Vivo de Chaplin, uma coletânea editada pela Martin Claret lá pelo final dos anos 80. O meu interesse na frase é apenas justificar a imagem ao lado que correu e-mail nessa semana em que se comemorou o Dia do Amigo (não sei de onde veio a imagem). A frase conclusiva é corretíssima, mas dá uma agonia danada se associada à imagem! Já pensou se nossos amigos agirem assim?

Lady Lu

Tenho uma amiga que não conheço, com quem tenho, contra todas as previsões contrárias possíveis, algumas afinidades, por assim dizer, "mediúnicas" (quem me perdoem os kardecistas). Seu nome é luz, a origem latina significando luminosa, por que luz ela é. A poucos metros da sua casa baiana, ela alcança o mar, onde lava os pés, às vezes mergulha, e rotineiramente o contempla como se contemplam as coisas grandiosas da vida: maravilhada e inquisitivamente. Naquele espelho d'água, ela espera vê Deus e se pergunta vezes sem conta o porquê da crueldade, dos desatinos humanos; também agradece as surpresas boas, as dádivas que a vida lhe oferece e ali, naquela contemplação, sente-se pequenina, pequenina diante do poder divino. Minha amiga tem o dom da diplomacia. Não pode ver fogo, seja verbal, "escritural", cara a cara, que sai logo apartando os contendores armada de uma mangueira imensa carregada de palavra afáveis, conciliadoras. Nunca a "li" com raiva, tamp...

De livro e inquietações

Terminei de ler As Codornas e o Outono , livro do egípcio Nagib Marfuz , Nobel de 1988. Uma coisa chama à atenção no livro: a identidade que construímos intimamente ligada à profissão que exercemos. O personagem, funcionário público, vê-se no meio do redemoinho provocado pelas mudanças políticas ocorridas durante um período no Egito, as quais ele não se adapta, desejando uma retomada à situação quando vivia no círculo dos poderosos. Aos poucos, Issa – esse o nome do personagem – vai perdendo prestígio, uma filha que não reconheceu, a mulher que não soube amar, ganhando vícios, dívidas, perdendo chão. Não sei dizer se gostei do livro, pois ele me causou uma inquietação pelo momento em que vivo. Perdendo chão, ou um pedaço dele, por deixar um local onde por muitos anos trabalhei. O trabalho em escola me absorveu durante todo esse tempo e, mesmo com todas as dificuldades e desilusões que a profissão carrega, não vejo nada que se compare ao convívio com alunos, aquele mundo de gente de tod...

A vida da palavra

"Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Todo o sentido da vida principia à vossa porta; o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota..." (MEIRELES, Cecília. Das Palavras Aéreas. In.: Romanceiro da Inconfidência.) A cada batida do coração o homem pensa que ama. Se a palavra não existisse, como amaria o homem? A cada lágrima que do rosto cai, o homem diz que sofre. Se a palavra não existisse, como choraria o homem? A cada abraço apertado, imagina o homem a amizade. Se não se fizesse a palavra, como se irmanaria o homem? A cada palavra pronunciada finge o homem revelar-se. Se não houvesse palavras, que significado teria o ho...

METAde

Eu estou aqui. Às vezes estou inteira Às vezes em pedaços. E cada pedaço de mim me emociona e me apavora e me faz crer que a vida não é só isto que se vê por entre frestas/festas. É um pouco mais de pedaços que se unem entrecortados e que partem amedrontados às vezes até emocionados.

NaveG(E)aNTE

A sacola lhe pesa nos ombros. Na mão direita mais dois pacotes vagabundos em papel pardo lhe escorregam continuamente forçando-a de vez em quando a empurrar-lhes contra o corpo para não deixá-los cair. As compras se resumiram a um amontoado indigesto de enlatados, porque já não tem paciência, tampouco fogão e gás para cozinhar. Caminha pela rua e conta automaticamente os quadrados da calçada que faltam para alcançar a porta do prédio onde mora. A sacola lhe pesa, mas não a tira nem por um momento do ombro, embora o peso e a alça fina cortante da bolsa já lhe deixem marcas vermelhas. Ali estão coisas que lhe são o mais precioso que tem e ela não deixa nem por breve minuto a bolsa escapar-lhe do alcance da mão e dos olhos. Ali estão vinte e cinco anos de trabalho. Ao chegar em casa, abre os pacotes, arruma as coisas no armário, prepara um suco rápido e engole o sanduíche natural que comprara na lanchonete a caminho de casa. Coloca a sacola sobre o sofá e vai tomar um banho quente que pos...

ArrE!!!

Há anos que Roberto Carlos canta que "além do horizonte deve ter um lugar bonito pra viver em paz" e vez por outra o que queremos mesmo é fugir, deixar esse dia-a-dia em busca de um novo horizonte. O danado é que o horizonte nunca está fixo, anda e anda, à medida que dele nos aproximamos. Nesse distanciamento queremos o horizonte quando o que está perto nos parece insosso, sem sentido, aborrecido, inclusive nós mesmos. Assim como o horizonte, também nossas carências e quereres nunca são os mesmos, mudando, mudando. Podemos nos aborrecer pelas coisas mais corriqueiras ou por coisas vultosas. É aquela estória de se engasgar com uma formiga e engolir um elefante, dependendo muito de nossa resistência, do quanto de paciência já foi usado. É aquela gota que faz o copo transbordar. Em momentos assim, melhor não escrever, não conversar, nem mesmo namorar, porque termina sobrando para quem está muito próximo. Trabalhar é um sacrifício porque as coisas cotidianas enchem o saco, ler é...