domingo, maio 18

Sem tempo


Quem passa sempre por aqui talvez estranhe o espaço entre uma postagem e outra. Ando ligada demais no trabalho, pois dez meses depois de férias, licenças, retornei. Não digo que ao batente, pois tantos anos depois não sei se trabalho pra mim é pegar no batente. De tanto subir escadas e descer ladeiras, a gente fica assim um tanto anestesiado com tudo que nos acontece na vida profissional. Em alguns momentos até parece que saímos de nós e flutuamos além da cena, contemplando-a com uma certa descrença.

O danado é que quando nos fazemos de um jeito não há jeito de mudar. Trabalhar na área de educação é uma mão dupla sempre, há inevitavelmente um prazer misturado à frustração de não se conseguir todo o sonhado, há sempre o esforço para manter a chama acesa, dizendo-se a si mesmo que daqui a uns anos aquelas lições darão frutos. Há uma mania generalizada de na educação se criar uma metáfora com árvore, com frutos como se nós, educadores, fossemos os únicos responsáveis pelo futuro de crianças e adolescentes. Entre a casa e a escola há muito mais razões do que sonha a nossa pedagogia. Há uma gigantesca coisa chamada política e bem no seu miolo uns bichos chamados ideologia, responsabilidade social, renda digna, cidadania. Ai de nós, esse povo que mendiga pelo saber a ouvidos surdos!

E antes que eu termine usando o tom messiânico, planfletário dos anos 70, vejam o vídeo que não tem nada a ver com o que eu estava escrevendo. É apenas uma cena de um filme de 1985, um belo filme de Spielberg, com uma interpretação magistral de Whoopi Goldberg. Eu e Socorro, minha amiga que vive na ponte aérea Rio-Natal-Rio, assistimos vezes sem conta. Em todas sessões ela chorava, talvez na esperança de na próxima o filme ter se tornado menos triste. Nada como relembrar o velho sul dos Estados Unidos com seus negros sofridos, as barcaças do Mississipi, e o bom velho blues para voltar a ter esperança.

Um comentário:

Fantasma disse...

Ed, não concordo com os ouvidos surdos. Os ouvidos escutam muito bem. Mas há outras vozes. E eles preferem atender a essas. Infelizmente. Não entendo como não se dão conta do que estão plantando...