sexta-feira, junho 5

Afinal, para qUÊ

Falar de notícia para quê?
As mortes se agigantam, sangram nas telas
absorvem papéis.
Crianças são abandonadas nas ruas, 
em elevador.
A insolência é tão grande, a crença 
na impunidade é tão intensa
que não se importam mais que o mal
seja às claras, aberto, escancarado
debochado na cara dos justos.
Não se tem paciência de segurar na mão do menino
e dizer fique quieto, sua mãe já volta.
Para o passeio do cachorro a patroa deixa
tempo sobe e não desce.
Entre a bolsa e a vida, a bolsa
vazia de nada serve
mas no tempo de depois o rio correria como sempre
trocar de bolsa, melhorar.
Sem vida, sem bolsa, perdido tudo.
Viver se torna mais duro e os poderes
que se pensam imunes não moram
debaixo de árvores, canteiros pelas ruas
não veem estrelas em barracão de zinco
- coisa de poética!
Não há poesia na fome, na dor.
Afinal, pensam eles, para que tanto alarde
é só 
um negro a mais que o policial tira da rua
um velho a mais que já deveria ter partido
um estudante a mais que na rua se rebela
uma criança a mais de mãe que inventou de ter
um professor a mais que deveria repetir a lição
um jornalista a mais que deveria ser calado 
uma mulher a mais que não sabe seu lugar na cozinha
uma moça atrevida a mais de rímel, batom e colares
um homem a mais que pecou amando o amigo
- para quê tanto alarde, afinal?
Alardeamos para não morrer de omissão
para que não nos matem antes do tempo
para mostrar que somos corpo e alma
para provar que a vida vale.
Alardearemos para 
defender a vida com justiça que queremos
para encenar o espetáculo de vozes que temos
para fazer a luta na hora que reconhecemos 
para que não nos calem antes do tempo.
Afinal, perguntamos nós, para que tanto alarde?
Somos só
um bando de gente sendo gente!