quinta-feira, agosto 31

Contaram umas mentiras. 

Amor cor de flores, rosa choque, 

vinho velho de maduro em carvalho. 

Beija que a dor passa. 

Se tivessem dito a verdade 

de criança não passaria.

quinta-feira, julho 2

DiFERente

A TV repete a novela Eita, Mundo bom!
Nela, o jargão é que tudo que acontece de ruim é para melhorar.
Será ou apenas uma lição à la Pollyana?
Não sei.
Poucas certezas temos na vida. As certezas não são mais duradouras, têm o tempo de um click. 
Na verdade, nunca foram, mas insistimos que eram, que podíamos planejar a vida até uns 80 anos. Depois disso, era lucro.
Ainda é lucro. A diferença é que as mudanças hoje são vertiginosas. Não só nos aparatos tecnológicos, nas Ciências. Em nossa vida.
Se pensamos planejar a longo prazo, corremos o risco de estatelar no chão diante de um imprevisto que muda tudo. Se não planejamos, também cairemos ao chão porque a grande surpresa, o completamente inesperado tem a capacidade de nos derrubar e nos pôr na dificuldade de se erguer.
Entre pensar, planejar ou nada, a vida não pede licença. Apenas segue.
E com ela, vamos.
Não há outra alternativa a não ser ir.
Quer dizer, há outra forma. Interrompê-la deliberadamente.
Aí, é outra história. E se o inesperado tenha sido o destino?

sexta-feira, junho 5

Afinal, para qUÊ

Falar de notícia para quê?
As mortes se agigantam, sangram nas telas
absorvem papéis.
Crianças são abandonadas nas ruas, 
em elevador.
A insolência é tão grande, a crença 
na impunidade é tão intensa
que não se importam mais que o mal
seja às claras, aberto, escancarado
debochado na cara dos justos.
Não se tem paciência de segurar na mão do menino
e dizer fique quieto, sua mãe já volta.
Para o passeio do cachorro a patroa deixa
tempo sobe e não desce.
Entre a bolsa e a vida, a bolsa
vazia de nada serve
mas no tempo de depois o rio correria como sempre
trocar de bolsa, melhorar.
Sem vida, sem bolsa, perdido tudo.
Viver se torna mais duro e os poderes
que se pensam imunes não moram
debaixo de árvores, canteiros pelas ruas
não veem estrelas em barracão de zinco
- coisa de poética!
Não há poesia na fome, na dor.
Afinal, pensam eles, para que tanto alarde
é só 
um negro a mais que o policial tira da rua
um velho a mais que já deveria ter partido
um estudante a mais que na rua se rebela
uma criança a mais de mãe que inventou de ter
um professor a mais que deveria repetir a lição
um jornalista a mais que deveria ser calado 
uma mulher a mais que não sabe seu lugar na cozinha
uma moça atrevida a mais de rímel, batom e colares
um homem a mais que pecou amando o amigo
- para quê tanto alarde, afinal?
Alardeamos para não morrer de omissão
para que não nos matem antes do tempo
para mostrar que somos corpo e alma
para provar que a vida vale.
Alardearemos para 
defender a vida com justiça que queremos
para encenar o espetáculo de vozes que temos
para fazer a luta na hora que reconhecemos 
para que não nos calem antes do tempo.
Afinal, perguntamos nós, para que tanto alarde?
Somos só
um bando de gente sendo gente!

sexta-feira, maio 29

Pra DedÉU

Faz tempo que deixei de acreditar em inferno nos termos religiosos.
Da Divina Comédia não sei o suficiente para dizer que acredito no inferno dantesco. Possivelmente.
Mas, que na vida tem um bocado de aperreio, ah, isso tem!
Os que nós provocamos. Os que os outros nos provocam.
Destes, para mim o mais recorrente é o de pessoas quererem me enterrar viva.
Não sei o porquê. Quer dizer, suponho. Apenas.
Fico quieta, não me interesso pela vida alheia. Há muito deixei de dar conselhos, cada um viva como quiser.
Tudo tem um preço, mas as pessoas insistem em não acreditar nisso.
Depois, reclamam daquele erro cometido, daquela omissão ou daquela agressão, nem sempre física, muitas vezes psicológica.
Tenho medo, não. Dificilmente, fico calada nas horas de opinar, embora já me dê o direito de não opinar por aquilo que não vale a pena.
Meu trabalho, por exemplo. Vale.
E falo, como se diz no interior, para dedéu. (Quer dizer, muito).
Educação é função difícil de se exercer. Todos que não a exercem são especialistas. Desprezam as posições de quem nela vive, anda, dorme e sonha. É um negócio extremamente lucrativo para uns. Para outros, nem tanto.
Essa semana o Ministro do Superior Tribunal Eleitoral, no ato de posse, disse que falta Educação no país, pois se houvesse, algumas das mazelas de hoje não existiriam.
Verdade.
Como também o é que os problemas da Educação não são novos. As soluções abundam, mas na hora das ações, concretizá-las é o lado perverso da moeda. Nem sempre acontece, nem sempre são eficazes.
Educação é ciência, é coisa séria. Ser professor não é para qualquer um. É necessário ter uma consciência social ampliada, rejeitar ações que promovam desigualdades, é lutar pelos alunos da escola pública, estes tão necessitados tanto de pão como de letras.
E quando se fala em Educação, inevitável não se falar em dificuldades, em desafios. É nosso pão diário. E em meio a crises, soluções mirabolantes aparecem a granel.
Assim, não podemos esperar morrer para saber o que é inferno. Sabemos sempre quando "os especialistas" falam. Um deles, estes dias, disse que afinal, as crianças da Educação Infantil vão ter contato com as letras, porque receberão livros didáticos. Sandice!!!!

quinta-feira, maio 28

CansAÇO

Ontem não choveu. O tempo se preparou, murchou, preguiçoso, não deixou água correr.
O tempo.
Ontem apareceram notícias velhas, repetidas, a lei, fazendo-se de morta, morreu.
O tempo.
Ontem os beijos um tanto quanto salgados, distâncias que aumentam sem ruído algum.
O tempo.
Devemos parar de falar no tempo? Responsabilizá-lo pelo futuro, por um futuro melhor?
A chuva.
Se o tempo nunca para, invenção nossa, por que esperamos mudanças?
A lei.
Quando provocamos dor, dizemos o tempo cura. Cura?
A distância.
Tenho a alma povoada de cansaço, de impaciências.
Não me acostumo com a cegueira alheia, pois a mim basta a minha
voluntária.
Minha lucidez me apavora, inquieta e me tira o sono.
Se pudesse, sairia e daria um longo passeio nas cercanias
para ver como se sentem os irresponsáveis, os idólatras, os falsos profetas.
Voltaria a mim como eu mesma?
O tempo.
Roubariam de mim o que me faz diferente?
A lei.
Seria transformada nas crenças que tenho?
Amor.

sábado, maio 23

SeI LÁ

Hoje não tenho tempo.
Não tenho palavras: mudo
contemplo a vida que se arrasta pela varanda
mudo e não saio do lugar
impossibilidade de ruas, de trabalho.
Quando encontro as pessoas
não há abraços: mudo gesto
à parte, de longe com os olhos.
Hoje não tenho tempo.
Não tenho palavras: canto
acompanho o som e assobio
Céu de Santo Amaro, Venturini
como letra na Cantata de Bach.
Quando o ouvido vai por dentro
ouço cânticos e lágrimas
saudades.
Hoje não tenho tempo.
Não tenho palavras: vivo
em apenas um lugar
onde tenho um par
na divisão de gestos, alentos.

sexta-feira, maio 15

A nAU dos InsenSatOS


O discurso recorrente é que pós-pandemia a humanidade terá aprendido uma grande lição, que seremos muito mais solidários, humanos, dispostos a exercitar mais a empatia e a solidariedade.

O que as pandemias já ensinaram são medidas de saúde que devem ser tomadas tão logo haja indícios de um novo vírus, avanço nas ciências para criar formas de combate, invenção de vacinas e descobertas para outras doenças, como consequências das pesquisas originais.

Em relação ao comportamento social e moral das pessoas, pouco provável que haja uma alteração tão marcante. É quase unânime a afirmação de pesquisadores comportamentais e historiadores. Depois da pandemia passada, as pessoas tendem a andar como sempre andaram: não se cuida do meio ambiente, o consumismo impera, como também a hipocrisia, os arrogantes continuam arrogantes, pisando quem acha que podem, “farinha pouca, meu pirão primeiro”!

A historiadora Joana Monteleone, no site Brasil de Fato, registra: “Uma das coisas estranhas da pandemia de Gripe Espanhola no mundo foi seu, digamos, “desaparecimento social” assim que a epidemia arrefeceu. Foi como se ela nunca tivesse existido. As pessoas continuaram com suas vidas, evitando lembrar dos dias de horror por que haviam passado.” 

No livro Metrópole à beira-mar, Ruy Castro diz que em 1918, referindo-se à Gripe Espanhola, “No começo, o carioca ainda brincou, atribuindo a doença a uma arma secreta dos alemães, embutida nas salsichas.” E assim que se viu a pandemia arrefecer, “quem sobreviveu não perderia por nada aquele Carnaval (o de 1919).” Antes como agora, durante ou após o surto crítico, necessário comemorar a vida por meio de festas grandiosas, churrascos, cervejas bem geladas, mesmo que haja recomendação de distanciamento social. Afinal, não foi nem será uma gripezinha que derrubará o glorioso Povo Brasileiro, que tem a Pátria acima de tudo.

Se a humanidade fosse se tornar melhor, não teríamos venda de respiradores danificados, não teríamos gente falsificando álcool gel, tampouco aumento exorbitante de produtos essenciais, não teríamos pessoas sem necessidade recebendo os R$ 600 do Governo, não teríamos gente cobrando para guardar lugar na fila, e tantos outros exemplos. O que não falta é exemplo de todas as ordens dos que se aproveitam das calamidades, das crises para levar vantagem.

Em relação aos cuidados para não propagação do vírus, as pessoas agem como se estivessem em plena Idade Média, não acreditam na Ciência, seguem um deus inventado e obedecem aos reis sem questionamentos. Uma idade da treva.

No Brasil, é possível que tenhamos um retorno às atividades bem mais drástico, haja vista o que o ex-capitão tem feito, como tem agido. Um país com um presidente assim, não precisava viver uma pandemia!