sábado, março 17

VIda LOUca Vida

A gravura acima, colhida no álbum do papai Google, anônima, é atribuída ao surrealismo que surgiu nas primeiras décadas do século XX e que foi por "excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente". Assim, apele ao seu inconsciente e tente descobrir o que você vê.
Será que você vê, por exemplo, nosso ouvido interno, o chamado labirinto, aquele tal cuja inflamação provoca tonturas? Talvez você veja um focinho de porco, um olho deformado, um cogumelo gigante cheio de tentáculos. Você pode não vê nada disso ou ainda vê o que ninguém mais verá. Preste atenção mais uma vez. Force sua vista e tente ver o que eu mencionei.
Você tem olhado para a vida ultimamente? Não a sua. A vida de todos nós, essa que está nos circundando, enlouquecida numa cantiga ao nosso redor? Se tem, há de lembrar-se o quanto essa circunavegação diária tem nos feito aportar em lugares sombrios, quanto das roupas que as pessoas estão usando na roda estão encardidas, impregnadas de tristeza, de crueldade, de pessimismo, de dor.
A vida se tornou surrealista tal qual essa figura acima. Olhamos, olhamos e não vemos nada. E não vemos nada por que cada um de nós está fazendo a sua própria leitura, cada um de nós está tentando, às vezes forçando, que o outro veja aquilo que estamos vendo, jurando que aquele amarelo bem ali é azul.
Estamos como cachorro em mês de agosto, que, segundo a lenda, é o mês de cachorro doido. Estamos loucos, agoniados pela barbárie que assolou nossas cidades atacando crianças e jovens, adultos e idosos, tudo quanto é gente, porque este tempo em que vivemos é um tempo partido, "tempo de homens partidos. (...) As leis não bastam. Os lírios não nascem/ da lei. Meu nome é tumulto, escreve-se/ na pedra." (Drummond).

2 comentários:

Fátima Mota disse...

Ednice gosto muito do seu estilo literário. Você consegue dar beleza ao texto mostra a realidade sem ser banal,poetiza sem ser piegas. Gosto disso.Destaque para Sonho de verão, amei. Li Vida de algodão e achei maravilho.
Um abração.
Fátima Mota

Gsinebh disse...

ED, falar da realidade nua e crua, que assola nosso país, nosso mundo, nosso planeta, é algo que deixei de fazer há muito tempo. Sentir-se indignado faz a gente sofrer, ainda mais quem tem tendência a gastrite...
Ficar alheio e omitir-se não é a opção mais adequada, mas, de alguma forma, nos "protege". Ou pelo menos nos dá uma falsa ilusão...
Faço a minha parte, evitando contribuir para o grande caos em que se transformou este nosso mundo, essa nossa vida louca...