Pular para o conteúdo principal

El tiempo pasa

Hoje é Dia Mundial da Paz, Dia da Confraternização Universal. Hoje para os cristãos é Dia de Ano Novo. Mesmo que queiramos considerar este 1º de janeiro um dia como outro qualquer, lá no fundo sabemos que estamos refazendo metas, virando gavetas, jogando coisas/sentimentos fora numa onda de esperança que nos toma para sanar as dores do tempo passado.
Revirar as gavetas dos armários é muito fácil. Revirar sentimentos é cravar um punhal no âmago de nós mesmos, torcendo-o até sangrar além da conta. Mesmo que Drummond tenha afirmado que "os ombros suportam o mundo/e ele não pesa mais que a mão de uma criança", às vezes é difícil não considerar que a tarefa é semelhante à sina de Sísifo condenado a rolar uma pedra montanha acima para em seguida vê-la rolar montanha abaixo, refazendo interminavelmente a tarefa. Porém, lá no recôndito da alma reside "uma louca chamada Esperança/E ela pensa que quando todas as sirenas/Todas as buzinas/Todos os recos-recos tocarem(...)Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada/Outra vez criança..." como tão bem disse Mário Quintana no poema Esperança.
Assim não há o que reclamar, pois apesar das dores, num afã religioso "combati o bom combate", chorei e sorri, gargalhei, chamaram-me de engraçada vezes sem conta, aprendi a comer sushi e sashimi, ganhei e perdi dinheiro, paguei as contas em dia, tive as costumeiras enxaquecas, acumulei livros, não comprei um guarda-roupa, usei Malbeck para inveja de alguns e delícia de outros, fiz novos amigos, descobri lealdades e enganos, cometi erros e acertos, refiz amigos, amei os que me amam e tentei – não queiram algo divino! – perdoar os que me bateram, mesmo que não me transforme num gatinho à sombra de um Bulldog.
Mais que Ano Novo, quero uma vida que se construa a cada dia, pois "el tiempo pasa, nos vamos poniendo viejos, yo el amor no lo reflejo como ayer. En cada conversación, cada beso cada abrazo se impone siempre un pedazo de razón. Vamos viviendo, viendo las horas que van pasando, la viejas discusiones se van perdiendo entre las razones... A todo dices que si, a nada digo que no para poder construir esta tremenda armonia que pones viejo los corazones porque el tiempo pasa" (Pablo Milanes).
Por isso tudo, "...gracias a la vida que me ha dado tanto/ me ha dado el sonido y el abecedario/ con él, las palabras que pienso y declaro/ madre, amigo, hermano/ y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando" (Violeta Parra).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bugol

  Nos idos dos anos 60, os Estados Unidos implementaram um programa de assistência aos países do terceiro mundo denominado de Aliança para o Progresso. Através dele, a população carente recebia alimentos para suprir as necessidades nutricionais, além de recursos financeiros para o desenvolvimento do estado, como casas populares, escolas. Dessa leva, em Natal se construíram o conjunto habitacional Cidade da Esperança e o Instituto de Educação Pte Kennedy, enquanto o navio Hope, ancorado no Porto na Ribeira, distribuía leite em pó e realizava tratamentos médicos e cirurgias que até então eram inacessíveis aos potiguares. O símbolo do programa era um aperto de mãos entre indivíduos, simbolicamente estadunidenses e latinos americanos. Os americanos não estavam preocupados altruisticamente em salvar populações da fome. Estavam muito mais interessados em fazer com que o comunismo não aportasse e conquistasse terrenos por essas bandas. Era o tempo da guerra fria, o mundo polari...

De amOR e de temPO

    Ainda quando estudava o antigo ginasial, uma professora de Português, interessada em que os alunos gostassem de ler e apreciassem os clássicos, passou como tarefa de avaliação uma redação sobre o texto  AMOR MENINO par te II do Sermão do Mandato – mas isso só soube muito depois já na faculdade - do Pe. Antonio Vieira. Agora, imaginem a dificuldade de adolescentes nos idos final dos anos 60 em cumprir essa tarefa. O que sabíamos do amor? Nada. Do tempo muito menos. O amor era em preto e branco nas fotonovelas que eu comprava no sebo na banca da feira livre, hábito também o das minhas amigas com quem trocava livros e revistas, caso contrário não leríamos nada. Apesar dessas imagens de amor, não lembro se as conversas já rondavam assuntos de namoro, casamento. Acho que não, pois éramos àquela época imaturas para tais assuntos. O universo ainda girava em volta de livros, estudar para provas, sorvetes, ouvir música e meninos não faziam parte do grupo. Aliás, eram olhados...

CONjugaSÓS

Eu te conheço tu me conheces nós nos desconhecemos. Eu te amo tu me amas nós nos sufocamos. Eu te confio tu me confias nós nos duvidamos. Eu te prometo tu me prometes nós nos esquecemos. (Imagem: Eros e Psiquê - Edward Munch. Galeria Mun. de Arte - Oslo)

E por falar em saudade...

Há exatamente 28 anos entrava numa sala de aula pela primeira vez. As aulas do estágio não contam; contam esses anos que vivi rodeada de alunos a quem pude realmente chamar de meus alunos. Como tudo que é novo, naquele dia tive medo. Não sabia o que encontraria e sentia que o aprendido na Universidade não seria bastante. Saber dá aula é completamente diferente do saber o que ensinar. Saber o que ensinar é indispensável, mas saber o como é uma aprendizagem que transcorre no decorrer do tempo, através dos acertos e dos erros cometidos. Na época eu sabia o que ensinar, não como deveria ensinar. As teorias aprendidas eram palavras e palavras que não se aplicavam ali à frente daquele mundo de alunos, que, independente das idades, têm como passatempo predileto tirar o juízo do professor. E se vai tentanto: o bonzinho não dá certo, porque eles levam na bagunça; o tirano não dá certo porque eles fazem de tudo para sair da sala e tirar, no dizer deles, !a moral" do professor. A medida cer...

SuSSuRRo

  A   mão corta a escuridão do quarto no afastar da cortina. A luz do poste lança sombras na parede. Sobre a cama uma indumentária de cigana a contempla. Não sabe como chegara ali.  Sonho.  Como sempre o relógio a acorda às 7 horas. E como de costume, pula da cama, termina de acordar sob o chuveiro, veste-se apressada, come alguma coisa, toma duas xícaras de café para acordar e sai. Não mais que 40 minutos se passara. Faz a maquiagem entre uma parada e outro nos sinais. Sons de buzina, freadas colaboram para o seu despertar. Depois de 40 minutos entre carros, 20 minutos dando voltas no quarteirão em busca de uma vaga, estaciona, desce do carro, bate a porta e caminha em direção ao prédio. Ao atravessar a rua, percebe que está sem bolsa. Assustada, pensa que foi assaltada, mas se dá conta que mal saíra do carro. Sem bolsa, o pensamento pula para a chave. Onde deixara? Dentro da bolsa, dentro do carro. Retorna. Porta destravada, pois a chave ficara na bolsa. No banco...

Miolo de quartinha e carga d'água

Não adianta. Não adianta colocar os dedos sobre o teclado e fazer um download que me leve à inspiração quando os acontecimentos me travam para o escrever e preencher o espaço do blog esta semana. Já pensei numa série de coisas, fictícias ou reais, e nada. Já li alguns jornais em busca de uma notícia que merecesse um comentário e nada. E olha que encontrei um bocado de coisa: no Paraná, um cinegrafista morreu atropelado por um avião. O rapaz de apenas 26 anos, olhando pela angular da câmera, não percebeu que o avião estava verdadeiramente próximo e sofreu o impacto fatal. Um marinheiro russo, servindo em um submarino, foi preso porque plantou maconha em uns jarrinhos perto da escotilha e estava "abastecendo" os colegas (isso sim é que visão capitalista!); o estilista famoso da Luciana Giminez, Ronaldo não sei das quantas, foi preso no cemitério roubando dois vasos de flores. Ele se explicou cientificamente: disse que estava tomando um remédio antidepressivo que o fazia comete...